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Saudade à mesa: os pratos que marcaram a vida de chefs

A relação com a comida vai muito além de simplesmente se alimentar. Ela carrega afeto, memória e, principalmente, a sensação de união. Muitas vezes, é uma refeição que reúne a família ou une os amigos ao redor da mesa.

Pensando nisso, perguntamos a chefs e proprietários de restaurantes: “Qual é a sua maior saudade gastronômica? Qual prato, ao vir à sua mente, te faz salivar?” Como era de se esperar, os pratos mais simples dominam as respostas, que se misturam com viagens e recordações de pessoas queridas. E você, qual é a sua saudade gastronômica?

Para o chef Gustavo Rodrigues, à frente do Sororoca Bar e do Lobozó, em São Paulo, sua maior saudade está ligada ao seu avô, Bruno, que faleceu quando Gustavo ainda era adolescente. “Ele foi um dos responsáveis pela minha criação em uma chácara em Parelheiros e gostava bastante de cozinhar. Todo fim de semana, ele preparava um sanduíche simples, mas delicioso: pão francês, presunto e pimentão. A família inteira se reunia, e ele fazia questão de usar uma chapa de lanchonete que comprou só para preparar esses lanches para todo mundo. Nunca mais comi o sanduíche daquele jeito e naquele ritual especial. Mas, de vez em quando, improviso em casa e faço esse sanduíche, mais para matar mais a saudade dele do que do próprio lanche.”

Para Thiago Castanho, do Sororoca Bar, em São Paulo, e do renomado Remanso do Peixe, em Belém, as memórias gastronômicas mais queridas estão ligadas às viagens que fazia para a casa dos avós na roça quando criança.


Chef Thiago Castanho
Chef Thiago Castanho • Reprodução/Instagram

O chef conta que os avós moravam e viviam ‘da roça’, em Bragança (PA), a 200 km de Belém, e que a comilança já começava no caminho, com paradas para degustar pamonha e tapioca em locais ao longo da estrada. “Lembro nitidamente das memórias das idas para passar o final de semana ou quando ia de férias para passar o mês de julho todo. Chegando lá, eles cozinhavam o que tinham no momento: galinha caipira, pato, jabuti… E faziam paçoca de castanha de caju do quintal com farinha d’água no pilão de madeira… Minhas recordações mais saudosas são desses momentos, ali, ajudando meu avô nisso.”

Thiago completa: “De vez em quando, consigo matar essa saudade e me reconectar: sinto que tenho um pé na praia, por minha infância ter sido bem imersa no interior/litoral do Pará. Toda vez que rola esse encontro, me sinto em casa. A conexão com o mar, a oportunidade de comer peixe apenas com farinha, pimenta e limão… Isso me soa como algo que eu quero eternizar e levar a minha filha para viver também.”

Saindo do norte do Brasil e indo para a Itália, o chef Sandro Giovannone, italiano radicado no Brasil e proprietário da Maturameat, afirma que sua maior saudade, é claro, remete ao seu país. “Como um bom italiano, minha maior saudade vem da minha terra e é a tiella, uma iguaria típica de Gaeta, cidade litorânea do Lazio, onde morei. É uma espécie de torta salgada, e o sabor mais clássico é o de polvo, justamente esse que me dá água na boca só de pensar!”

Sandro tem uma ligação profunda com o mar, tanto que tem tatuado no corpo um polvo, uma moreia e um caranguejo. Aprendeu a mergulhar com seu pai aos 8 anos e, na adolescência, ia pescar e vendia tudo o que o mar lhe oferecia — exceto quando a maré trazia polvo, esse ele levava para casa e pedia para sua mãe preparar na tiella. “Até hoje, é a primeira coisa que ela faz quando eu chego na Itália”, conta o chef.

Bia Limoni, chef do badalado Pasta Shihoma e sócia do Shihoma Deli, ambos na capital paulista, não tem um prato específico que a remeta à saudade, mas lembra com carinho e água na boca de quando era criança e saía da escola sonhando com o almoço do dia, que seria servido em sua casa. “Comida de casa, feita pela minha mãe e pela minha avó. Nada específico, mas, como boa filha de uma família do interior de São Paulo, eu sabia que, independente do que fosse, seria sempre aquela comidinha fresca, caseira, que acolhe. Nada supergastronômico, mas sempre comida que abraça”.


Bia Limone, chef à frente do Shihoma e Shihoma Deli
Bia Limone, chef à frente do Shihoma e Shihoma Deli • Divulgação

Márcio Shihomatsu, que comanda o Shihoma e a Shihoma Deli ao lado de Bia, sente falta do bentô (refeição tradicional da gastronomia japonesa, geralmente servida em uma caixa compacta, prática e bem organizada, com porções de diferentes pratos) de sua avó. “Íamos visitar minha avó materna, em Tupã, e eram seis horas de viagem de carro! Na volta, ela preparava um ‘bentozão’ com oniguiri com furikake, bifinho à milanesa, tofu, conservas, salsicha frita na massa de pastel… Parávamos em qualquer posto de gasolina e comíamos no carro. O tempero da minha avó era muito suave e tudo o que ela fazia era gostoso. Lembro até hoje do feijão dela: era só feijão e alho, mas ela fazia de um jeito que ainda lembro do gosto. Eu comia uma tonelada de feijão e de gohan. Nada mais. O japonês é muito fechado e demonstra muito carinho pela comida. E, revendo agora, esse bentô que ela fazia pra gente, era muito isso: carinho. Chorei ao relembrar isso agora”.

Joey Lim, que também faz parte do time do Shihoma Deli e do Pasta Shihoma, conta que sua saudade vem de longe, das montanhas da Coreia, onde passava os verões quando era mais jovem ao lado das avós. “Comia uma variedade eclética de iguarias fermentadas, desde berinjelas até peixe seco, preparadas pelas minhas avós. Nunca encontrei nada que chegasse perto desse sabor. Algo de que sinto muita falta”, completa o chef.

Já para Bruna Martins, dos restaurantes Birosca, Florestal e Gata Gorda, em Belo Horizonte, como boa mineira, sua saudade está ligada ao forno a lenha. “A minha grande saudade é quando a família inteira ia para o sítio: avós, tios, primos… e a gente passava o dia todo lá, ao redor do fogão a lenha. De manhã, tínhamos a missão de ir ‘catar’ coisas na horta; de tarde, fazíamos doce de leite, e no finzinho da tarde, minha avó já começava a preparar um caldo de mandioca. Literalmente, ficávamos o dia todo nessa reunião familiar ao redor do fogão a lenha”, conta a jovem chef.

George Koshoji, chef e sócio-proprietário do Kosushi, sente falta da época em que morou no Japão para se aperfeiçoar na arte de fazer sushi. Por lá, vivia com sua tia na casa que tinha sido do seu avô, onde seu pai havia nascido, e que contava com um quintal memorável. “Lembro-me de que, na parte do quintal, havia vários peixes, como cavalinha e sardinha, secando ao sol. Um dia, perguntei à minha tia se poderia experimentar. No jantar, ela assou algumas dessas iguarias no carvão e, como acompanhamento, serviu ochazuke (arroz branco) e umeboshi (ameixa curtida no sal). Tudo isso regado com chá. Não imaginava que aquele sabor me marcaria tanto!”, conta o chef.

Para Dudu Strumpf, à frente da marca Strumpf Molhos, uma simples salada de frutas marcou sua infância. Isso porque, quando era jovem, ele passava todas as férias em um acampamento, imerso entre brincadeiras e esportes com os amigos. Na hora da sobremesa, servida em grandes tijelas, vinha a tão aguardada salada de frutas, embebida em um caldo grosso que reunia os sucos das frutas e uma generosa dose de groselha artificial. “Para nós, aquilo era ouro. Tamanha era a devoção pela salada de frutas que ela virou até moeda de troca nas nossas disputas de pingue-pongue e pebolim durante as horas vagas”, conta o empresário. “Se eu ganhar, você me dá a sua salada de frutas no almoço! Hoje, olhando para trás, percebo que não era só o sabor da salada de frutas que a tornava especial. Era o contexto, o momento, a fome genuína após um dia intenso de brincadeiras e a felicidade pura de um monte de moleques competindo para conseguir mais uma porção daquela mistura simples, mas inesquecível”, finaliza Dudu.

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