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Oposição critica Lula sobre alimentos: “Tá caro, não compra”

Parlamentares da oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificaram as críticas ao governo em reação à “solução” apresentada pelo presidente para a alta nos preços dos alimentos. Redes sociais foram tomadas por reações às declarações de Lula, ampliando o desgaste do governo com a economia e medidas que ele próprio propõe.

Em entrevista concedida a rádios da Bahia na quinta-feira (6), além de responsabilizar fatores externos e a “arapuca do Banco Central” pelos problemas da economia, Lula ainda disse que cabe ao povo o controle dos preços da comida.

“Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado aí em Salvador e você desconfia que tal produto tá caro, você não compra. Ora, se todo mundo tiver essa consciência e não comprar aquilo que ele acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar (o preço) pra vender, porque se não vai estragar”, disse o mandatário.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi um dos primeiros a ironizar a fala do petista, ainda na noite da quinta-feira (6). Em vídeo postado nas redes sociais, Nikolas reproduz um trecho do discurso do presidente e, em seguida, complementa:

“Se a água tá cara, é só não tomar banho. Se você está com fome, é só não comer. Se a conta de luz está cara, é só não ligar. Se a gasolina tá cara, é só não andar de carro. Se a passagem tá cara, é só ficar em casa. Se o presidente tá ruim, é só tirar”, finalizou o parlamentar, retomando a ideia do impeachment do presidente – que voltou a mobilizar a oposição por conta de possíveis “pedaladas” no programa Pé-de-meia.

Logo cedo, na manhã desta sexta, Nikolas seguiu ironizando as falas do petista: “Bom dia! E se não estiver tendo um bom dia, é só não acordar”. Na sequência, afirmou em outra postagem que integrantes do PT defendem a criação de um “núcleo político” que faça reuniões frequentes e ofereça alternativas para o presidente Lula. “É oficial: nem o PT aguenta mais o Lula”, afirmou.

O deputado ainda fez referência ao remédio de emagrecimento da moda para ironizar o governo: “Ozempic pra que? É só virar petista”. E também aproveitou a deixa para impulsionar mais uma vez o impeachment do presidente: ao replicar manchete que afirma que as viagens de Lula bateram valor recorde nos últimos dez anos, comentou: “Governo tá caro, vamo trocar”.

Em suas declarações às rádios baianas, Lula também culpou o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, alvo constante de suas críticas, pela alta do dólar no fim de 2024, pela elevação nos juros e subsequente alta no valor dos alimentos, chamando de “arapuca do Banco Central”.

O presidente omitiu que a alta nos juros visa conter a própria inflação, e que esta também tem relação com a política fiscal do governo.

A fala de Lula chega em mais um momento delicado para a gestão petista, que, além das críticas pela alta na inflação da comida, também enfrenta acusações de ter contratado ONGs para fornecimento de marmitas que nunca foram entregues à população de rua em São Paulo.

O deputado Nikolas Ferreira comentou o caso em seu perfil no X, dizendo que ONGs controladas por ex-assessores de parlamentares petistas receberam R$ 5,6 milhões para realizar o serviço. Conforme reportagem do jornal O Globo, as ONGs receberam os recursos mesmo sem executar o serviço, com relatórios que apresentam indícios de fraude.

Oposição ao governo Lula repercute críticas sobre inflação dos alimentos

Outros parlamentares também se manifestaram. O líder da oposição no Senado, senador Rogério Marinho (PL-RN), publicou no X um trecho de uma entrevista sua e comentou que Lula debocha do povo.

“A culpa do aumento dos preços nos supermercados não é de quem compra, mas de um governo que destrói a economia com impostos e inflação! Agora, com uma nova gestão do Banco Central, o PT segue culpando terceiros para esconder sua incompetência e irresponsabilidade!”, afirmou.

O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) reproduziu print do vídeo de Nikolas e afirmou: “lá vai o Nikolas dando mais uma porrada no Lula”. Em meados de janeiro, um vídeo do deputado mineiro criticando a resolução do governo sobre o monitoramento do cartão de crédito e do Pix gerou mais de 300 milhões de visualizações e fez o Planalto recuar, revogando a medida.

Por sua vez, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) também criticou a gestão de Lula. “Se o arroz está caro, é só não comer. Se o gás está caro, é só não cozinhar. Se a gasolina está cara, é só ficar em casa. Nada de cortar gastos nos ministérios, colocar gente competente nas estatais ou gerir melhor a economia. Para o governo, basta que os brasileiros parem de comer, beber e se deslocar que os preços caem”, afirmou.

Carol de Toni (PL-SC), líder da minoria da Câmara e presidente da Comissão de Constituição e Justiça, de forma irônica, chamou Lula de “gênio” e disse que agora ele resolveu “jogar a culpa da inflação no próprio povo”. “Mais um tapa na cara do povo. Agora fico no aguardo da turma do ‘entenda como isso é bom’ para explicar essa nova genialidade”, comentou a parlamentar.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, somente republicou corte do vídeo com as declarações de Lula, quando o presidente menciona que a população deixe de comprar os produtos que estão caros.

Presidente da Câmara vincula controle de inflação a medidas estruturais

Na manhã desta sexta-feira, questionado sobre as falas de Lula, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), defendeu que o governo deve buscar medidas estruturais para conter a alta nos preços dos alimentos, mas evitou criticar o mandatário.

O parlamentar vinculou a inflação dos alimentos a questões externas e, internamente, afirmou que “um cenário de mais estabilidade” passa por discussões sobre “um corte nas despesas, de um corte de gastos, para que, de certa forma, não tenhamos esses indicadores saindo do controle”. Motta ainda afirmou não acreditar que “decisões simples, fáceis” possam resolver a questão.

O mercado avalia que a inflação dos alimentos seguirá aquecida por algum tempo. A alta no valor da carne é um exemplo. Conforme mostrou a Gazeta do Povo, nem mesmo o recorde histórico de 10,2 milhões de toneladas será suficiente para reduzir os preços tão cedo.

Como o próprio Comitê de Política Monetária (Copom) observou em atas de suas reuniões, a mudança no ciclo pecuário, associada aos efeitos da estiagem, levaram à deterioração do cenário de inflação de alimentos de curto prazo. A alta de preços – não só de alimentos – e a piora das expecatativas de inflação levou o Banco Central a promover quatro altas de juros desde setembro, e novos aumentos são esperados para os próximos encontros do Copom.

Os preços do café, outro item comum da mesa do brasileiro, também dispararam e seguem com perspectiva de alta. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), nos últimos quatro anos, o aumento no valor do produto no varejo foi de 110%, sendo 37,4% somente em 2024.

Fatores climáticos adversos têm afetado as plantações de diferentes países desde 2021, reduzindo a produção e pressionando os preços em um momento de crescente demanda global. Ao mesmo tempo, a alta do dólar impulsiona a exportação, reduzindo a oferta no mercado interno. A Abic prevê que, nos próximos dois meses, o produto deve ter uma alta de 25%.

Comunicação do governo também foi criticada

Além das próprias falas do presidente Lula, representantes da oposição ainda criticaram a postura do governo de apostar na comunicação para resolver problemas cujas causas são estruturais e amplas, como é a inflação dos alimentos.

O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) ironizou a dependência de Lula a seu novo ministro e marqueteiro em uma série de publicações. “A inflação disparando, o povo sofrendo… e Lula correndo: CHAMA O MARQUETEIROOOO!”, postou no X.

Em outra mensagem, o parlamentar criticou a promessa de campanha de Lula, de que o brasileiro iria comer picanha se fosse eleito: “Picanha virou lenda, café tá um luxo… Lula, desesperado: CHAMA O MARQUETEIROOO!”. Para ele, este é o “governo do cinismo, deixando o povo cada vez mais pobre enquanto sua família vive no luxo bancado pelo Brasil”.

Oposição já vinha criticando governo Lula em relação à inflação dos alimentos

Em janeiro, Lula se reuniu com ministros para discutir soluções a fim de conter a alta nos preços da comida, que pesa principalmente no bolso do consumidor de baixa renda. Não por acaso, a economia é apontada como um dos principais fatores responsáveis pela queda na popularidade do presidente.

Naquele momento, declarações do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), também geraram controvérsia pelo uso da palavra “intervenção”. Uma possível revisão no prazo de validade de alimentos, cogitada no Planalto, foi outro motivo de críticas ao governo – que recuou em ambas as situações, dizendo que não haverá intervenção e nem alteração nos prazos de validade.  

Rui Costa também foi amplamente criticado quando, de forma semelhante a Lula, afirmou que, se a laranja estivesse cara, que a população comprasse outra fruta.

O deputado Pedro Lupion (PP-PR), que comanda a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), divulgou uma nota no dia 25 de janeiro, na qual criticou as medidas aventadas pelo governo para reduzir a alta dos alimentos, incluindo a  redução nos impostos de importação.

“A medida é mais um exemplo de decisões apressadas e mal planejadas, enquanto o governo ignora questões fundamentais como problemas macroeconômicos, controle inflacionário, câmbio desajustado e gastos públicos elevados”, disse Pedro Lupion na carta em nome da FPA.

FPA diz que taxação de fundos do agronegócio eleva inflação

Mais recentemente, no dia 3 de fevereiro, em nome da FPA, o parlamentar postou um vídeo em seu perfil no X, no qual critica a taxação do governo sobre os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) e os Fundos de Investimento Imobiliários (FIIs).

Ao sancionar a regulamentação da reforma tributária, em 16 de janeiro, Lula vetou o dispositivo que isentava ambos os fundos de taxação. Segundo Lupion, “se o governo estivesse realmente se importando com a inflação dos alimentos, não teria taxado FIIs e Fiagros, que permitem acesso a crédito sem depender de dinheiro público”.

No vídeo, a FPA questiona a real preocupação do governo com a alta dos alimentos e o porquê do veto a uma das “principais formas de financiamento para quem produz”, além de afirmar que as dificuldades geradas para o acesso dos produtores ao crédito fazem com que os custos aumentem, e o preço da comida suba ainda mais.

“Eles não querem que você saiba, mas enquanto o governo tenta encontrar culpados para criar soluções mirabolantes, ele mesmo vetou um dos principais mecanismos que ajudariam a reduzir os custos da produção agrícola. E, no final, adivinha quem paga a conta? Você!”, mostra o vídeo.

A postagem ainda traz a explicação de que os FIIs e os Fiagros são formas que o agronegócio encontrou para se financiar sem depender do orçamento público e que o governo pode inviabilizar essa alternativa com mais impostos. “Temos trabalhado para derrubar esse veto e impedir mais um ataque ao setor que sustenta o Brasil”, defendeu Lupion.

República

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