A ministra da Cultura, Margareth Menezes, recebeu na manhã desta quarta-feira (12), para uma roda de conversa durante o Encontro de Novos Prefeitos e Prefeitas, realizado pelo Governo Federal, artistas e representantes políticos para debater a cultura como ferramenta de desenvolvimento, geração de empregos e fortalecimento da identidade brasileira. O diálogo contou com a presença do rapper, poeta e ativista cultural GOG, da atriz Denise Fraga, do cantor, compositor e pastor evangélico Kleber Lucas, do senador Randolfe Rodrigues e da ex-prefeita de Guaramiranga (CE), Roberlândia Ferreira, conhecida por sua exitosa gestão cultural no município. O evento foi mediado pelo comunicador e influenciador Ad Júnior.
A titular da Cultura abriu o diálogo ressaltando a riqueza e diversidade do setor no Brasil e como essa pluralidade precisa ser compreendida para que seja fortalecida por meio de políticas públicas efetivas. Segundo a ministra, a cultura do país é o resultado da fusão de múltiplas influências históricas e sociais.
“Ao longo da história, fomos construindo uma cultura que é, na verdade, uma grande fusão de várias influências. O que temos hoje na sociedade contemporânea brasileira ainda está em processo de compreensão, pois há muitos fatores que compõem essa identidade. O calendário cultural do Brasil é uma expressão do povo brasileiro, mas entender essa diversidade e se reconhecer nela não é algo simples, justamente pela necessidade de autocompreensão dentro de um país tão diverso”, explicou.
A ministra também destacou o trabalho do MinC nos últimos dois anos para reconstruir a estrutura da Pasta, implementar políticas culturais abrangentes e democratizar o acesso aos recursos.
“Cada região tem seus próprios processos e desafios, então os impactos das políticas culturais não acontecem de maneira homogênea. Mas estamos trabalhando. E este é um momento de oportunidades. Estamos vivendo um cenário diferente de qualquer outro na história do Brasil em termos de apoio à cultura. Por isso, este diálogo é fundamental. Precisamos nos apropriar dessas ferramentas e defender as conquistas do setor cultural brasileiro”, disse.
Identidade e expressão
O rapper e ativista cultural GOG destacou a importância de fomentar a cultura nos territórios para garantir sua sobrevivência e impacto social. Ele relembrou sua trajetória dentro do Hip-Hop e a resistência de movimentos culturais periféricos que, ao longo dos anos, conquistaram espaço e reconhecimento.
“Nos anos 80, a cultura parecia ser o livro mais alto da estante. Cultura era algo reservado para quem tinha uma biblioteca, para quem possuía grandes estantes montadas, mas esses livros estavam sempre fora do nosso alcance. O que não foi feito antes, paciência. Não dá mais tempo para lamentar. O momento agora é de agir. A cultura não está distante da gente. A cultura é a gente. E, por isso, jamais aceitarei ouvir que ela não nos pertence”, afirmou.
Já Denise Fraga reforçou o impacto da arte na sociedade destacando a necessidade de fortalecer políticas públicas para o setor.
“A arte não é um supérfluo. Ela não é um luxo, algo que se acrescenta à vida quando está tudo bem. A arte é uma necessidade humana. Desde que somos humanos, tentamos nos retratar nas paredes das cavernas. O ritmo, a música, fazem parte do nosso corpo. A arte é um direito de todos. E mais do que isso: arte é saúde mental. Por isso, as políticas públicas voltadas para a cultura são fundamentais”, falou.
Kleber Lucas abordou sua vivência na intersecção entre religiosidade e cultura e ressaltou como a cultura tem papel fundamental na acolhida e na formação identitária.
“Sou um ser absolutamente sincrético. Minha espiritualidade é sincrética. Minha formação cultural, musical e artística também é sincrética. Quando você está com fome na favela, a comida chega. Você não pergunta se veio do terreiro de macumba ou da igreja evangélica. Você apenas aceita, porque a fome não faz distinções. A solidariedade está em todos os lugares. Quando penso em cultura, lembro da importância dos professores que dedicam suas vidas a transformar realidades através da arte. Eu sou fruto desse esforço, dessa educação musical que ultrapassou os centros e chegou à periferia”, destacou.
Cultura e desenvolvimento local
Falando sobre a experiência à frente da gestão municipal, a ex-prefeita de Guaramiranga (CE), Roberlândia Ferreira, destacou a importância de estruturar políticas culturais em cada cidade para garantir a continuidade dos investimentos e do acesso à cultura.
“Gestores, precisamos defender essa política fundamental para o incentivo aos programas culturais! Não adianta gestores públicos cobrarem apenas o Ministério da Cultura. Nós, gestores municipais, também temos que fazer a nossa parte! Nunca vivemos um momento tão expressivo e importante para a cultura brasileira como agora. A cultura precisa ser estruturada de maneira sólida em cada cidade. E é com esse compromisso que devemos seguir em frente”, defendeu.
Randolfe Rodrigues enfatizou como a cultura é um dos principais alvos de regimes autoritários e a necessidade de protegê-la para fortalecer a democracia.
“Não é por acaso que regimes autoritários tentam silenciar a cultura. Quando assumiram o governo, extinguiram o Ministério da Cultura. Quando usam a mentira como método, fazem isso porque sabem que a cultura e o conhecimento são antagônicos ao fascismo. A cultura é a expressão da civilização. Ela não é apenas estética, não é apenas entretenimento. Ela é a memória, a crítica, a consciência coletiva de um povo. Por isso, o processo de reconstrução cultural que estamos vivendo é, na verdade, um processo de reconstrução de nós mesmos, da nossa história, da nossa identidade”, enfatizou.
Ao final do bate-papo, o cantor e pastor Kleber Lucas cantou um trecho de Deus Cuida de Mim, o rapper e ativista cultural GOG fez suas rimas musicadas e a ministra Margareth Menezes compartilhou o palco com o cantor, compositor e violeiro que foi secretário municipal de Cultura, de Vitória da Conquista (BA), Xangai , onde, juntos, cantaram o Coco do M.