O novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) disse que não adianta o presidente Lula (PT) fazer como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “e ficar o tempo todo falando para uma bolha que o faz errar”.
A declaração foi dada durante entrevista concedida ao jornal O Globo, nesta sexta-feira (7).
Motta foi questionado sobre a fala do presidente do seu partido, o deputado Marcos Pereira (Republicanos -SP), que disse que o governo Lula está sem rumo e a “tendência” é estar com a centro-direita em 2026.
“Vejo pontos positivos, como o Pé-de-Meia, o Minha Casa Minha Vida, os leilões. Agora, do ponto de vista econômico, o governo tem vacilado e deixado de tomar decisões necessárias. Isso tem trazido instabilidade. Não podemos, em um país complexo como o Brasil, ficar refém de posicionamentos ideológicos. Quem mais precisa quer resultado”, disse o deputado.
“O governo precisa entender isso. Não adianta Lula fazer o que Bolsonaro fez e ficar o tempo todo falando para uma bolha que o faz errar. Não tem governo que traga crescimento sem discutir responsabilidade com as contas públicas”, completou.
8 de janeiro
Questionado sobre sua intenção de unir direita e esquerda e como isso é possível dentro da discussão sobre o projeto de anistia aos presos do 8 de janeiro, o deputado disse que o tema “cria tensão com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Executivo” e não se pode “inaugurar o ano legislativo gerando mais instabilidade”.
“Teremos de, em algum momento, em diálogo com o Senado, combinar como faremos com esse tema. Vamos sentindo o ambiente na Casa. Não faremos uma gestão omissa. Enfrentaremos os temas, mas com responsabilidade e sem tocar fogo no país”, afirmou.
Motta negou que tenha se comprometido com o avanço da pauta em troca do apoio da direita na sua eleição para a Presidência da Casa.
Segundo o parlamentar, ele ouviu o pedido de Bolsonaro em favor da anistia e também os pedidos do PT contra a pauta.
“A nossa eleição foi construída do ponto de vista de uma convergência. Vamos sentindo o ambiente na Casa para que, a partir daí, se decida”, completou.
Lei da Ficha Limpa
Nos cálculos dos aliados de Bolsonaro, a medida poderia liberar os direitos políticos do ex-presidente para que ele pudesse concorrer à presidência em 2026.
Motta disse que não assumiu compromisso com a alteração da Lei, mas que o tema poderá ser levado ao colégio de líderes para análise.
“Se essa matéria for trazida, por exemplo, pelo PL, do presidente Jair Bolsonaro, vamos levar ao colégio de líderes. Agora, com eleição de dois em dois anos, não reconhecer que oito anos de inelegibilidade é muito tempo é não reconhecer a realidade democrática do país. Quatro eleições é uma eternidade”, afirmou.
Bloqueio de emendas
Motta também afirmou que está empenhado em resolver o impasse com o STF, especialmente com o ministro Flávio Dino, sobre as regras de transparência para a destinação das emendas parlamentares.
“Temos uma lei aprovada pelo Congresso, sancionada pelo Executivo e que foi dialogada com o Poder Judiciário. Penso que a solução seria trazer transparência para o que foi empenhado em 2024 em cima dessa nova lei, que valeria a partir de 2025. Tenho conversado com ministros do Supremo e sentido interesse em vencer essa pauta”, afirmou.
“Para o Executivo também é importante. A governabilidade está diretamente ligada ao Orçamento. É o que os deputados precisam para justificarem apoio a pautas difíceis de serem aprovadas. Essa tensão não interessa a ninguém”, completou.
Excessos do STF
Ao falar sobre os avanços do STF sobre as prerrogativas do Poder Legislativo, o deputado disse que as propostas recentes para limitar os poderes do Tribunal fazem parte de um movimento natural “pelo nível de tensão que tivemos nos últimos anos, com decisões duras que incomodaram bastante os parlamentares”.
É muito ruim quando um Poder tenta emparedar ou acuar outro. O Legislativo jamais se ajoelhará ao Supremo. São medidas de reação a decisões que poderiam ter sido evitadas. Existem exageros. Será uma constante daqui para frente se essas decisões continuarem”, disse.
Marco Civil da Internet e Inteligência Artificial
Ao tratar do tema do Marco Civil da Internet – em discussão no STF – Motta disse que legislar não é atribuição do Supremo e a falta de discussão no Congresso também é fruto de uma decisão dos parlamentares.
“Não estamos obrigados a legislar sobre qualquer tema no momento em que é trazido pela sociedade. A Casa pode entender que não é prioridade. É uma decisão política também. Acho até que temos de discutir, mas é um tema complexo na Casa”, pontuou.
Sobre a Inteligência Artificial, Motta disse que antes de encerrar seu mandato, o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) pediu para priorizar o tema.
Carga Tributária
Por fim, o deputado criticou o aumento da carga tributária, mas defendeu a atuação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“O ministro Haddad é uma grata surpresa no governo. A agenda que ele defende é positiva, mas muitas vezes ele fica vencido na decisão política tomada pelos ministros que estão no Palácio e, claro, pelo presidente da República. Isso não tem ajudado na condução da economia. Vamos procurar ajudar a agenda do ministro naquilo que concordamos”, afirmou.