SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No dia 1º de fevereiro, o Recife teve vários conflitos entre torcedores de Santa Cruz e Sport, com um estupro documentado em vídeo. Uma semana depois, no último sábado (8), 115 pessoas foram presas em Fortaleza por brigas entre apoiadores do Fortaleza e do Ceará. No domingo (9), foi a vez de cruzeirenses e atleticanos se digladiarem em Belo Horizonte.
Há muito em comum entre os três episódios, com guerras registradas antes de um clássico em cada um deles. Também em cada um deles houve um anúncio de um plano de segurança que viria a fracassar, com imagens chocantes, todas fora do estádio.
O caso do Recife chamou a atenção, além das cenas perturbadoras, pelo fato de o poder público ter ciência prévia de que os grupos rivais estavam marcando confrontos pelas redes sociais. A SDS-PE (Secretaria de Defesa Social de Pernambuco) foi alertada, em documento que listava até onde as organizadas Explosão Coral, do Santa Cruz, e Jovem do Leão, do Sport, viriam a se enfrentar.
“Apesar de todo o planejamento e da tentativa de antecipar possíveis crises, os fatos que ocorreram […] fugiram do padrão esperado, exigindo uma resposta rápida e firme das forças de segurança. O efetivo atuou para evitar mortes e minimizar danos às pessoas e ao patrimônio, dispersando os grupos envolvidos e controlando os confrontos da maneira mais ágil possível”, justificou a SDS-PE.
Houve 13 prisões em flagrante, convertidas em preventivas, e também 13 homens encaminhados ao Hospital da Restauração. Doze receberam alta, e o presidente da Jovem do Leão, João Victor Soares, foi transferido. Por questões de segurança, não há divulgação de seu estado nem de onde está, sob custódia policial.
Já no Ceará, a SSPDS (Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social) anunciou com algum estardalhaço o “Plano de Segurança para o primeiro Clássico-Rei de 2025”. “Ao todo, 613 agentes de Segurança Pública estarão empregados para a partida, atuando dentro e fora da Arena Castelão.”
Dentro, foi uma beleza.
O jornal O Povo relatou até “o clima familiar nas arquibancadas”, nas quais estavam vetados uniformes e faixas de torcidas organizadas.
Fora, não foi uma beleza.
Diversos pontos de Fortaleza tiveram conflitos, o maior deles no bairro Canindezinho. Segundo a Secretaria de Segurança, mais de cem pessoas foram conduzidas a diferentes delegacias -82 tiveram a prisão decretada no domingo.
Nessas situações -exatamente como ocorreu em Pernambuco, na semana passada-, surge com frequência a pretensa solução da torcida única.
Porém era única a torcida presente no Mineirão no último domingo, para o jogo entre Cruzeiro e Atlético, com a arquibancada toda azul. Isso não impediu cruzeirenses e atleticanos de batalhar nas ruas de Belo Horizonte.
O conflito teve cenas semelhantes às anteriores, com o uso de pedras, paus e rojões. Em mais uma imagem chocante, um torcedor estava caído, aos pés de um agente da Guarda Municipal, desacordado.
Fogos de artifício, barras de ferro, um soco inglês e uma bomba caseira foram apreendidos. Foi mais uma jornada que forneceu argumentos àqueles que esbravejam contra a adoção da torcida única -levantamento feito pela Folha de S.Paulo, em 2022, mostrou que é, no mínimo, contestável a eficácia de medida.
Há duas semanas, no dia de mais um clássico de torcida única, torcedores de São Paulo e Corinthians se enfrentaram em São Paulo. O confronto se deu a 14 quilômetros do estádio do Morumbi e cinco horas antes da partida.
Abundam episódios de violência. As medidas de prevenção têm se mostrado sistematicamente ineficientes para combater o problema.