Presidente busca expansão de mercados para o Brasil e investimentos em visita que marca passagem dos 130 anos de relações diplomáticas entre os dois países
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou ao Japão no sábado e desembarcou em Tóquio por volta de 22h deste domingo 23/3). A última passagem de Lula pelo país foi em maio de 2023, para participar da cúpula estendida do G7, grupo que reúne as economias mais industrializadas do mundo. Esta será a quinta vez que o presidente brasileiro visita o país.
O Brasil conta com a maior população nipodescendente fora do Japão, estimada em mais de 2 milhões de pessoas, e o Japão abriga a quinta maior comunidade brasileira no exterior, com cerca de 211 mil nacionais. Os dois países mantêm Parceria Estratégica e Global que completa uma década em agosto deste ano.
Em 2025, comemoram-se também os 130 anos das relações diplomáticas Brasil–Japão. As relações entre os países foram estabelecidas em 1895, com a assinatura do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação. O acordo permitiu abertura recíproca de representações diplomáticas em 1897 e abriu caminho para o início da imigração japonesa, em 1908.
“O Japão é uma grande economia, nosso mais tradicional parceiro na Ásia e é a nona origem de investimentos estrangeiros no Brasil, com um estoque de US$35 bilhões de investimentos nos últimos três anos. O objetivo da visita é dar impulso a setores prioritários, além de novos setores na relação. A gente tem como base essa boa relação de vínculos humanos, econômicos, mas queremos avançar. Uma das nossas expectativas é a abertura do mercado japonês para produtos brasileiros, especialmente carne bovina e suína in natura”, destacou o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores.
Saboia explicou que há expectativa de avançar na discussão das relações entre Mercosul e Japão. “Além disso, estamos abertos às questões relacionadas à atração de investimentos. Existe uma complementaridade entre as economias, existem grandes oportunidades para investidores japoneses, que já conhecem o Brasil, para ampliar as parcerias público-privadas”, pontuou.
Lula desembarca em Tóquio com os ex-presidentes do Senado e da Câmara, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL), e os atuais, Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB)
RELAÇÕES EXTERIORES — Desde 2014, os dois países mantêm Parceria Estratégica e Global, marcada pelos tradicionais vínculos humanos, pelo interesse em aprofundar a cooperação em Ciência, Tecnologia & Inovação, pela importância dos fluxos bilaterais de comércio e investimentos e pela ativa cooperação em temas internacionais, inclusive no âmbito do G4, onde, junto com Alemanha e Índia, defendem a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU). O principal mecanismo político entre os países é o Diálogo de Chanceleres, estabelecido em 2014, com previsão de encontros anuais. A mais recente edição do Diálogo ocorreu em 2023, em Brasília.
As relações diplomáticas entre Brasil e Japão têm ganhado novo dinamismo, destacando-se pela expressiva agenda de visitas de alto nível e avanços em iniciativas como a isenção recíproca de vistos para viagens de curta duração anunciada em setembro do ano passado. No âmbito econômico-comercial, observa-se elevada complementaridade e acentuado intercâmbio. O Japão, quarta maior economia do mundo, é um dos maiores investidores no Brasil. Os investimentos japoneses são diversificados e incluem setores como o automotivo, de materiais elétricos e siderurgia.
A cooperação técnica constitui, há mais de 60 anos, referência no desenvolvimento nacional. Historicamente, há pelo menos dois projetos de especial relevância em termos econômicos: o fortalecimento do complexo minerador de ferro e de siderurgia no Brasil, a partir dos anos 1950, e a evolução tecnológica que contribuiu, a partir da década de 1970, para o desenvolvimento da agricultura tropical no Cerrado por meio do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer).
A cooperação em Ciência, Tecnologia & Inovação é outra prioridade da agenda bilateral. Entre as áreas mais promissoras, destacam-se tecnologias da informação e das comunicações, tecnologia aeroespacial, robótica, materiais avançados, ciências médicas e saúde e energias renováveis. Também merecem destaque as amplas oportunidades na área de descarbonização, como o uso de etanol para a produção de combustível de aviação e biomassa para geração de eletricidade.
Leia também
• ‘É a qualidade de vida de um povo que garante a soberania de um País’, diz Lula
Visita de Estado
Lula terá programação de visita de Estado. Será recebido pelo imperador e terá uma reunião de trabalho com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba. Haverá ainda um evento empresarial no Hotel New Otani, realizado pelo Itamaraty com o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com participação de 500 empresários.
“Serão empresários do setor de alimentos, agronegócio, aeroespacial, bebidas, energia, logística e siderurgia, entre outros. E há previsão de assinatura de atos em diversas áreas, tanto no setor público como também no setor privado, na área de ciência e tecnologia, combustível sustentável, educação, pesca, recuperação de pastagens, entre outros”, afirmou o embaixador.
RELAÇÕES COMERCIAIS — Em 2024, Brasil e Japão registraram intercâmbio comercial de US$11 bilhões, com superávit brasileiro de US$146,8 milhões. O Brasil exporta carne de aves (frescas ou congeladas), alumínio, carne suína, celulose, café não torrado e minério de ferro, entre outros produtos. Já as importacões do Brasil são compostas por partes e acessórios de veículos automotivos, instrumentos e aparelhos de medição, motores de pistão e demais produtos da indústria de transformação.
Depois do Japão, Vietnã
Na sequência, entre os dias 27 a 29 de março, o presidente Lula realiza visita oficial ao Vietnã, com intuito de estreitar a parceria estratégica, o diálogo político e a cooperação econômica entre os dois países. “É o segundo país do Sudeste Asiático a se formar parceiro estratégico do Brasil. Nós estamos negociando um plano de ação para implementar essa parceria e a ideia é que esse plano de ação seja adotado durante a visita”, relatou Saboia.
A visita terá por objetivo definir ações e iniciativas conjuntas para implementar a Parceria Estratégica entre os dois países, anunciada em 17 de novembro de 2024, quando o presidente Lula e o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chin, se reuniram à margem da Cúpula do G20, no Rio de Janeiro.
A elevação das relações diplomáticas com o Vietnã ao nível de Parceria Estratégica possibilitará aprofundar o diálogo político, reforçar a cooperação econômica, intensificar o fluxo de comércio e os investimentos, fortalecer a coordenação em temas da agenda multilateral e impulsionar novas iniciativas de cooperação.
Em 2024, Brasil e Vietnã registraram intercâmbio comercial de US$ 7,7 bilhões, com superávit brasileiro de US$415 milhões. O Vietnã consolidou-se como o quinto destino global das exportações do agronegócio brasileiro e se destaca como um dos principais produtores mundiais de café, arroz e produtos eletrônicos, setores nos quais há potencial para ampliar a cooperação bilateral. “O comércio passou de US$ 500 milhões para quase US$ 8 bilhões. E a ideia é chegar a uma meta de US$ 15 bilhões em 2025”, ressaltou o embaixador.