O presidente Lula (PT) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) lançaram nesta quinta-feira (27) o edital do túnel imerso Santos-Guarujá em evento no Parque Valongo, no Porto de Santos (SP). Durante o discurso, o petista destacou a união com o governo paulista para viabilizar uma das maiores obras do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com investimento de quase R$ 6 bilhões, apesar da oposição política do governador.
Tarcísio é cotado como um dos principais nomes da direita para disputar as eleições presidenciais de 2026, caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não consiga reverter a inelegibilidade imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Segundo Lula, alguns aliados de Tarcísio não gostam de vê-lo ao lado do presidente, assim como parte do PT também não aprova a aproximação entre os mandatários. “Tarcísio, não se preocupe, porque vai ter muita foto comigo e com você juntos. O que é mais grave para os nossos adversários é a gente estar rindo na foto. Mas o que nós queremos é cuidar do povo de São Paulo e do Brasil”, disse o petista.
Lula foi ao evento acompanhado de ministros e do novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), que reforçaram os elogios ao empreendimento em parceria com o governo paulista, que ficará responsável pelo processo de concessão, por meio de uma parceria público-privada (PPP) que vai à leilão na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, no dia 1º de agosto.
Apesar dos afagos a Tarcísio e do tom conciliador de Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e os ministros do governo criticaram Bolsonaro sem citar o nome do principal aliado do governador de São Paulo. Eles ainda lembraram da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o opositor pela suposta tentativa de golpe de estado. “Enquanto alguns maquinavam o assassinato de seus adversários, o presidente Lula promove o diálogo e estende as mãos em benefício do povo e do desenvolvimento do Brasil”, declarou Alckmin.
Tarcísio de Freitas evitou falar sobre a polarização política e procurou destacar os investimentos anunciados para a Baixada Santista, calculados em cerca de R$ 20 bilhões nos primeiros anos de mandato. No entanto, o governador foi vaiado ao lembrar dos recursos que serão investidos por meio da privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Ele chamou a obra do túnel Santos-Guarujá de “cereja do bolo” dos investimentos para a Baixada Santista e agradeceu o presidente petista pela parceria. “Desde o início, tivemos conversas sobre o túnel e o senhor colocou o projeto como prioridade. […] Lembro que o senhor falou: não está na hora da disputa política, a gente tem que atender o cidadão.”
Motta destaca capacidade de diálogo entre Lula e Tarcísio e ouve gritos de “sem anistia”
Sindicalistas da categoria portuária e militantes de esquerda gritaram “sem anistia” durante o discurso do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, que afirmou que houve uma tentativa de “aniquilar a democracia” no Brasil. Ele também declarou que a presença de Lula e Tarcísio no mesmo palco ganhou destaque na imprensa por conta da postura radical do governo anterior. “Isso deveria ser normal, mas se tornou manchete em sites e jornais porque durante sete anos não houve esse tipo de evento”, atacou.
Parte da plateia voltou a gritar “sem anistia” no início do discurso do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, que deve definir se o PL da Anistia será pautado no Legislativo. O projeto pode anistiar os responsáveis pelos atos de 8 de janeiro de 2022 e beneficiar Bolsonaro para reversão da inelegibilidade e lançamento da candidatura presidencial no próximo ano.
Motta classificou a capacidade de diálogo de Lula e Tarcísio como a “segunda obra” do edital do túnel imerso Santos-Guarujá e afirmou que o brasileiro não suporta mais o conflito e o radicalismo. “Nós vamos procurar replicar esse momento de convergência na pauta da Casa. Queremos sair de uma pauta que nos divide para uma pauta que nos une. Quem está na ponta, quem mais precisa, não quer saber o nosso partido, não quer saber a nossa ideologia”, afirmou o presidente da Câmara dos Deputados.
Lula nega uso de BNDES para pressionar opositores e alfineta governador de SC
Criticados nos bastidores por governadores de oposição pelos “recados” enviados por ministros durante a liberação de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Lula disse que não usa os empréstimos como “instrumento político contra os adversários”.
Além do edital do túnel Santos-Guarujá, o governo federal anunciou o financiamento de R$ 2,4 bilhões para o estado paulista pelo BNDES para expansão da Linha 2 do Metrô de São Paulo.
O presidente disse que se preocupa apenas se as obras financiadas por empréstimos do BNDES são válidas, independente dos partidos dos governadores. “Jamais vou perseguir alguém que votou contra mim. Não foi para isso que eu quis ser presidente”, discursou Lula.
O petista ainda comentou que na próxima semana vai visitar o Porto de Itajaí, em Santa Catarina, e disse que o estado tem o governador que mais fala mal da gestão presidencial. O estado catarinense é administrado pelo governador Jorginho Mello (PL), correligionário e aliado de Bolsonaro. “Não estou preocupado com o governador, estou preocupado com o Brasil, com Santa Catarina e de levar a possibilidade das pessoas poderem trabalhar.”