Data e Hora

Lula aposta em viagens para reverter queda de popularidade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está intensificando sua agenda de viagens pelo país, em uma tentativa de reverter a queda de popularidade registrada em pesquisas de opinião recentes. Na semana passada, Lula esteve no Rio de Janeiro e em municípios da Bahia e, nesta quinta (13) e sexta-feira (14), participa de eventos no Amapá e no Pará.

As viagens nacionais são uma estratégia já conhecida do mandatário para se aproximar de aliados e tentar diminuir a resistência política em algumas regiões. Fontes próximas ao governo avaliam que Lula não deve ponderar nos discursos, mesmo com o risco de suas falas de improviso gerarem novas crises políticas.

Pesquisas divulgadas recentemente mostram que a desaprovação do mandatário chegou aos seus piores índices nas últimas semanas, inclusive em regiões que historicamente votam em candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT), como é o caso do Nordeste. Levantamento realizado pela Genial/Quaest, divulgado no final de janeiro, mostrou que a avaliação positiva de Lula teve uma queda de sete pontos percentuais no Nordeste e Sul em comparação com dezembro, indicando o pior resultado de popularidade no seu terceiro mandato nessas regiões.

Já a pesquisa realizada pela AtlasIntel/Bloomberg, divulgada nesta terça-feira (12), aponta que mais da metade da população desaprova o trabalho realizado por Lula. O levantamento mostrou o maior índice de desaprovação do governo Lula 3, com 51,4%. Já 45,9% dos entrevistados afirmaram que aprovam o governo, e 2,7% não souberam opinar. Agora, a equipe de Lula pretende correr atrás do prejuízo pensando nas eleições de 2026. (Confira no fim da reportagem as metodologias das pesquisas citadas).

Após o período em que ficou impedido de realizar viagens de avião devido ao acidente que lhe causou uma lesão na cabeça, Lula iniciou o segundo mês do ano com agenda em outros estados. O primeiro destino foi a cidade do Rio de Janeiro, governada por um aliado de Lula, o prefeito Eduardo Paes (PSD). Agora, o presidente dá início a um tour pelo país para entregar casas, participar de eventos e lançar obras.

Durante passagem pelo Amapá, Lula participou da inauguração de um condomínio residencial na capital do estado, Macapá, e do lançamento das obras de um campus do Instituto Federal do Amapá. Lula também vai formalizar a entrega de terras da União para o estado do Amapá.

Ainda nesta quinta-feira (13), Lula embarca para Belém, no Pará. Na cidade, o mandatário visitará as obras que estão sendo realizadas para o Brasil sediar a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, a COP-30.

“O que o Lula está fazendo agora lembra que ele fez em 2006, depois de estourar o escândalo do Mensalão. Após o fim da CPI que investigava os crimes do Mensalão, Lula aproveitou e fez uma série de viagens pelo Brasil entregando obras, fazendo promessas… E como a economia ia bem naquela época, ele logo conseguiu se recuperar em termos de popularidade. Acredito que a estratégia do Lula agora esteja respaldada nessa experiência anterior”, avalia o cientista político Adriano Cerqueira. 

Em 2005, após as denúncias de corrupção no governo petista, a aprovação de Lula “derreteu” e levou a uma queda de 12 pontos percentuais em um ano, segundo levantamento realizado pelo Datafolha em dezembro daquele ano. Em 2004, a aprovação da gestão petista era de 45%, mas chegou a 28% após o escândalo do Mensalão.

Lula, contudo, conseguiu recuperar sua imagem ao longo de 2006 e foi reeleito naquele ano. Ao fim do seu primeiro mandato, o Datafolha indicava que o petista tinha 52% de aprovação – uma recuperação de 24 pontos percentuais, na comparação com a mesma pesquisa realizada um ano antes.

Lula adota estratégia do passado, mas contexto atual é diferente

Ainda que a estratégia adotada por Lula em seu primeiro mandato tenha surtido efeitos que podem ter colaborado para sua reeleição em 2006, analistas avaliam que o cenário atual não é o mesmo daquela época. Para Cerqueira, que é professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), o entorno do petista está tendo uma “uma visão romantizada do passado”. 

O docente explica que a oposição já não é a mesma que a do passado e relembra ainda que a esquerda petista tem um inimigo que ainda não foi dominado: as redes sociais.

“A estratégia de comunicação do Lula funcionou em uma era de predomínio da grande imprensa na formação de opinião. Hoje, a gente sabe que, principalmente para a população brasileira, o vetor de comunicação é cada vez mais as redes sociais, onde o Lula não tem uma boa versatilidade, ao contrário da oposição, que domina esse espaço”, diz Cerqueira.

O analista lembra que, em 2006, o petista raramente encontrava algum tipo de manifestação contrária, mas que hoje precisa ser muito mais cuidadoso.

“Lula agora não tem muita popularidade e nem tanta versatilidade. Ele, inclusive, tem priorizado visitas aos estados onde pode ter menos problemas em termos de enfrentamento de oposição”, analisa Cerqueira.

Ele acrescenta que, ao tentar recuperar apoio fazendo o “corpo a corpo” com a população, Lula já está no “modo Eleição 2026”.

Retomada das viagens ocorre após troca no comando da Secom

O desempenho ruim do governo nas redes sociais e na comunicação motivou uma mudança no Palácio do Planalto no início deste ano. Lula demitiu o então ministro Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência para nomear o marqueteiro Sidônio Palmeira para o cargo. A mudança foi tomada com a intenção de melhorar o diálogo do governo com a população e tentar alavancar a popularidade de Lula. 

Apesar dos índices negativos na economia, com a alta do preço dos alimentos e dos combustíveis, a avaliação interna do governo é de que os resultados da gestão petista não têm chegado à população por má comunicação do Planalto e dos ministérios. Membros do governo vêm repetindo que os dois primeiros anos deste mandato de Lula foram um período de “plantação” e agora seria o momento da “colheita”, mas a população não estaria vendo os resultados do trabalho. 

A mudança na comunicação intermediada por Sidônio tem a intenção de deixar Lula mais ativo nas redes sociais, com a imprensa e seus eleitores. Entre as iniciativas adotadas, a recomendação é que Lula faça mais viagens, assim como seus ministros e a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. O mandatário também tem se mostrado mais ativo nas redes ao aparecer em vídeos adotando uma comunicação direta com o internauta.  

Para o cientista político e diretor da consultoria Dominium, Leandro Gabiati, as iniciativas demonstram um reconhecimento de erro no seu trato com o eleitor.

“Lula falou que os ministros têm que sair mais de Brasília e estar mais nos estados, ou seja, veio uma tentativa de mudança na comunicação e ao mesmo tempo vem também essa intenção de colocar os ministros mais ativos e dialogando mais com prefeitos, governadores, empresários, sociedade. Se vai dar certo ou não, obviamente não tem como saber. Mas é lógico que o governo pelo menos reconhece que há um problema”, avalia.

Lula não deve ponderar discursos, ainda que a repercussão seja negativa 

A estratégia de uma comunicação mais ativa e direta com a população, contudo, é vista com receio por especialistas. Ao longo deste terceiro mandato, Lula acumulou declarações polêmicas que culminaram em repercussões negativas com seu eleitorado e até mesmo em ruídos com outros países. Apesar dos estragos já causados com discursos improvisados de Lula, a Gazeta do Povo apurou com membros do governo que a atual recomendação é que o mandatário continue falando sobre projetos e realizações do governo. 

Essa seria uma forma, avalia o Planalto, do presidente “dominar o discurso” e não ser “pautado” pelo que é dito pela oposição. Adriano Cerqueira, porém, avalia que a tática não deve ter um bom desempenho para além daqueles que já apoiam Lula.

Na última semana, uma declaração de Lula sobre o preço dos alimentos causou ampla repercussão negativa para o petista, que entrou na mira de parlamentares da oposição. Em entrevista que deu para uma rádio da Bahia, o presidente sugeriu que a população evite comprar alimentos caros para ajudar no controle da inflação.  

“Uma das coisas mais importantes para que a gente possa controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado aí em Salvador e você desconfia que tal produto está caro, você não compra. Ora, se todo mundo tiver essa consciência e não comprar aquilo que ele acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar [o preço] para vender, porque se não vai estragar”, afirmou. 

“Se a água tá cara, é só não tomar banho. Se você está com fome, é só não comer. Se a conta de luz está cara, é só não ligar. Se a gasolina tá cara, é só não andar de carro. Se a passagem tá cara, é só ficar em casa. Se o presidente tá ruim, é só tirar”, disse o parlamentar em um vídeo publicado nas redes sociais.  

Metodologia das pesquisas citadas

AtlasIntel/Bloomberg: A pesquisa foi realizada pela internet e ouviu 3.125 pessoas entre os dias 27 a 31 de janeiro. O nível de confiança é de 95%, com 2 pontos de margem de erro, para mais ou para menos.

Genial/Quaest: O levantamento ouviu 4.500 pessoas presencialmente entre os dias 23 e 26 de janeiro. A margem de erro é de um ponto percentual, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

Datafolha de 2006: Foram ouvidas 2.178 pessoas em 111 municípios do país, no dia 13 de dezembro de 2006. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

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