Pela primeira vez em muitos anos, nenhum representante do alto escalão do governo federal confirmou participação em um dos cinco dias de programação do Show Rural, realizado em Cascavel (PR). O evento, considerado um dos maiores do agro brasileiro, movimenta bilhões de reais e espera receber aproximadamente 400 mil visitantes até a sexta-feira (14).
Diferentemente de outros anos, quando eram registradas as presenças de ministros de Estado, como da Agricultura e do Desenvolvimento Social e também da presidência do Banco do Brasil – instituição financeira que faz liberação da maior fatia dos créditos para o Plano Safra –, em 2025 apenas profissionais em cargos de diretoria e de superintendência estão na agenda oficial.
O governo federal não justificou os motivos pelos quais não designou ministros para a feira que abre a temporada dos grandes eventos agropecuários do Brasil. Nos bastidores, comenta-se que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva Lula (PT) pretende se blindar e não encarar líderes do setor produtivo que devem reivindicar uma série de medidas para o fortalecimento de segmento e da economia.
No topo da lista estão reclamações quanto à defesa do agro brasileiro fora do país depois de episódios que envolveram impasses comerciais externos, como a crise desencadeada por declarações do CEO do Carrefour.
Para líderes do setor produtivo, falta conhecimento governamental sobre o segmento. E também uma melhor comunicação institucional direcionada ao mercado externo, ao não conseguir mostrar ao mundo que mais de 60% do território brasileiro está preservado e que a produção de grãos no país ocupa apenas 9% das áreas, obedecendo rigorosas regras ambientais de preservação. Há também a excelência na produção de proteínas, que torna o Brasil uma referência mundial na obediência de critérios de sanidade.
O setor também manifesta preocupação com as elevadas taxas de juros, que devem afetar mais fortemente o segmento no próximo ciclo produtivo. O Plano Safra 2025/26 será lançado no meio do ano.
A preocupação com o tema é tamanha que, ao contrário do que ocorria em anos anteriores, desta vez a coordenação do Show Rural não anunciou uma projeção de negócios a serem fechados durante a semana.
Em 2023, o governo teve atritos com outra feira – a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, cancelou a ida ao evento quando soube que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria na abertura. Na sequência, o governo ameaçou cortar o patrocínio do Banco do Brasil à feira. Dias mais tarde, Lula chamou os organizadores de “fascistas e negacionistas”.
Coordenação convidou 1.º escalão do governo; Zeca Dirceu diz que houve problema de agenda
Segundo Dilvo Grolli, diretor-presidente da Coopavel, cooperativa que realiza o Show Rural, o primeiro escalão do governo federal foi convidado para o evento. Ele espera que até o fim da feira a organização seja surpreendida com a participação de representantes ligados diretamente ao presidente da República.
O deputado federal Zeca Dirceu (PT), que esteve no Show Rural nesta segunda (10), disse à Gazeta do Povo que talvez a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, ainda visite a feira. Ele também afirmou que tenta fazer uma interlocução com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para que compareça ao evento.
Segundo Zeca Dirceu, o ministro da Agricultura havia confirmado presença no Show Rural, mas teve de cancelar a sua participação por problemas de agenda. “Inclusive eu pegaria uma carona com ele [para retornar a Brasília] e tive de comprar passagem aérea de última hora porque o ministro teve uma dificuldade de agenda”, afirmou.
Para o deputado, se confirmada a participação da presidente do Banco do Brasil, já é um grande empenho do governo federal, “porque ela representa a instituição que faz a liberação de crédito para agricultura a partir do Plano Safra”.
Até a publicação desta reportagem, no entanto, o nome da presidente do Banco do Brasil segue fora da agenda oficial do evento.
Show Rural espera 400 mil visitantes até sexta-feira
O Show Rural está entre os mais importantes do Brasil em tecnologia, inovação e desenvolvimento agropecuário e receberá ao menos 400 mil visitantes desta segunda até sexta-feira (14).
O evento abre oficialmente a temporada das gigantes feiras agropecuárias do país e reúne ao menos 600 expositores do Brasil e exterior, com destaque para quase 200 empresas de tecnologia e inovação voltadas ao segmento.
Nessa segunda-feira (10), primeiro dia do evento, quem esteve no Show Rural foi o diretor do lado brasileiro da Itaipu Binacional, Enio Verri. Durante a semana, um dos vice-presidentes do Banco do Brasil deverá passar pelo evento e, na quinta-feira, é esperada a presença de um dos coordenadores do Ministério da Agricultura.
Também esteve na feira nesta segunda-feira o vice-governador do Paraná, Darci Piana (PSD). Na quarta-feira, é a vez do governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD).
Além de sediar um dos maiores eventos do agronegócio brasileiro, o Paraná é o segundo maior produtor de grãos do Brasil, atrás apenas de Mato Grosso. É também o primeiro na produção de aves, segundo na de suínos, atrás de Santa Catarina, e maior produtor de tilápia. O estado está entre os que mais exportam alimentos para o mundo, com clientes em pelo menos 190 países.