Data e Hora

exportação do Brasil aos EUA pode ganhar impulso

Depois de baterem recorde em 2024, as exportações brasileiras de petróleo bruto podem ganhar impulso extra em razão de medidas anunciadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump.

Em 2024, o faturamento com os embarques do óleo chegou a US$ 44,8 bilhões, 5% mais que no ano anterior. O país nunca vendeu tanto. Com esse crescimento e a quebra da safra de soja, o combustível se tornou – ao menos temporariamente – o principal produto de exportação do país, superando a oleaginosa.

O resultado foi puxado pelos dois principais compradores do petróleo brasileiro, a China e os Estados Unidos. As vendas da commodity para a China somaram US$ 20 bilhões, com leve avanço de 1% sobre o ano anterior. Os EUA, segundo maior cliente, importaram quase US$ 5,8 bilhões em petróleo do Brasil, quase US$ 1,1 bilhão a mais que em 2023. Nesse caso, o crescimento anual foi bem mais forte, de 23%.

Produto brasileiro mais comprado pelos norte-americanos, o petróleo colaborou para outro recorde: pela primeira vez na história das relações comerciais, as exportações totais do Brasil para os EUA superaram a marca de US$ 40 bilhões no ano passado. O faturamento, mais precisamente de US$ 40,330 bilhões, representou uma alta de 9% sobre 2023.

Analistas acreditam que medidas anunciadas nos últimos dias por Trump – como a taxação em 10% do petróleo canadense, dentre outras contra México e China – podem beneficiar indiretamente o Brasil. Desde que, é claro, o país também não entre para o rol das nações sujeitas a sobretaxas nos EUA. Um risco considerável, tendo em vista as sucessivas ameaças e insinuações de Trump nesse sentido.

A concretização de benefícios ao Brasil também depende, naturalmente, da confirmação das medidas anunciadas por Trump. Suas promessas de sobretaxas têm sido seguidas por negociações e recuos parciais ou integrais, reforçando a percepção de que as tarifas servem, antes de mais nada, para barganhar algum tipo de vantagem.

O presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy, destaca que as medidas protecionistas dos EUA e as respostas de países que elevaram tarifas em retaliação ao governo americano, como a China, podem trazer oportunidades para o Brasil. Não só no caso do petróleo, como de outras commodities.

“Podemos imaginar uma situação na qual, por exemplo, o Brasil consiga ocupar alguns espaços que hoje estão ocupados por produtos dos Estados Unidos. Por exemplo, alguma importação de petróleo feita pela Europa ou mesmo pela China. Também poderia ocupar um espaço que hoje é ocupado por outros fornecedores”, diz Ardenghy.

Vitor Agnello, analista da corretora CM Capital, avalia que, enquanto o Brasil também não é sobretaxado, pode sair ganhando com as tarifas impostas pelos EUA à China, de 10%. “Os dois países [China e EUA] podem buscar mercados alternativos para fechar acordos ou até mesmo uma demanda interna buscando alternativas. Dessa forma o Brasil pode se apresentar como um mercado competitivo”, avalia.

Ele destaca que podem se beneficiar: Petrobras, por ser a principal exportadora de petróleo do país; Embraer, por exportar tecnologia em aviação e aviões, que é uma demanda grande da China e dos EUA; e Vale, pela possibilidade de negócios com metais fortes, que é uma demanda americana para o desenvolvimento de suas tecnologias.

Trump prometia aumento de tarifas desde a campanha eleitoral

Desde antes da posse de Donald Trump, o mercado contava com anúncios de aumentos de tarifas, alardeados desde a campanha eleitoral. Após sanções à Colômbia, relacionadas a deportações e logo suspensas, Trump divulgou tarifas contra os vizinhos Canadá e México e também a China. A promessa era de que entrariam em vigor nesta terça-feira (4).

As novas tarifas incluem uma taxa de 25% sobre grande parte dos produtos mexicanos e canadenses e de 10% sobre as importações de energia vindas do Canadá. Os embarques originados na China também terão alíquota de importação de 10%.

Desde a década de 1990, com a entrada em vigor do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), Canadá e México são dois dos principais parceiros comerciais dos EUA, além da China. Segundo o The New York Times, em 2024 o México respondeu por 15,6% das importações dos Estados Unidos e o Canadá por 12,6%. A China ficou com 13,5%.

O volume de comércio entre as nações demonstra a amplitude da aplicação das novas tarifas. Juntas, as importações oriundas dos três países correspondem a praticamente um terço dos bens comprados pelos EUA no mercado internacional, totalizando trocas de US$ 1 trilhão.

Dos produtos importados pelos Estados Unidos, as importações de petróleo somam US$ 165,3 bilhões, atrás somente das compras de carros, no valor de US$ 208 bilhões. Do petróleo importado pelos EUA, 56% vem do Canadá, 12% do México e 32% de outros países, incluindo o Brasil.

México e Canadá costuraram negociação, mas China respondeu com altas tarifárias

As negociações com México e Canadá levaram a uma suspensão de um mês nas aplicações das novas taxas. Ainda na tarde de segunda-feira (3), após conversa com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, Trump afirmou que irá adiar as tarifas impostas ao vizinho até março. A resolução foi tomada após a mandatária mexicana se comprometer em enviar 10 mil efetivos da Guarda Nacional para a fronteira com os EUA.

Da mesma forma, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciou a suspensão das tarifas dos EUA por 30 dias. Em conversa por telefone com Trump, o canadense também se prontificou a reforçar a vigilância na fronteira a fim de reduzir o tráfico de drogas, como o fentanil.

Por sua vez, a China respondeu à alta nas tarifas dos EUA com uma taxação extra de 15% para carvão e gás natural, e 10% para petróleo bruto, equipamentos agrícolas e certos automóveis. As medidas estão previstas para entrar em vigor no dia 10 de fevereiro. No entanto, o governo chinês, da mesma forma que o mexicano e canadense, se dispõe a conversar com Trump para rever as taxas.

Tarifas dos EUA trazem oportunidades e riscos para o Brasil

As sanções dos EUA ao petróleo canadense podem, por um lado, aumentar a venda do petróleo brasileiro para os EUA. Por outro, podem fazer com que o Canadá busque outras vias comerciais para o seu produto e trazer certa dificuldade para o Brasil.

“São as correntes de comércio que se organizam”, explica Ardenghy, do IBP. “É claro que se sobrar mais produto canadense, eles vão ter que encontrar um caminho. Mas ao mesmo tempo vai surgir uma oportunidade, de repente, de o Brasil vender para os Estados Unidos, porque eles vão continuar consumindo petróleo”, avalia o presidente do IBP.

Os Estados Unidos são o maior produtor de petróleo do mundo. Em novembro, o país chegou a produzir 13,5 milhões de barris por dia. No entanto, seu consumo é ainda maior, de cerca de 21 milhões de barris por dia. Ou seja, há um saldo negativo de 7,5 milhões de barris, coberto por importações. Para se ter uma ideia da importância desse volume, a produção brasileira de petróleo, próxima de seu máximo histórico, está em cerca de 3,3 milhões de barris por dia.

Ampliação das exportações de petróleo não afetam mercado interno, diz IBP

Um ponto importante destacado por Ardenghy é o peso da qualidade do petróleo na hora da exportação. O presidente do IBP explica que o produto brasileiro é de alta qualidade e que, portanto, mostra-se competitivo no mercado internacional.

“O Brasil tem uma vantagem porque o petróleo, principalmente aquele produzido no pré-sal, de onde sai 75% da produção brasileira, é de altíssima qualidade”, explica. “É muito aceito em refinarias no mundo inteiro, pois tem uma boa qualidade para produzir diesel, gasolina, GLP.”

Outro ponto é que o Brasil é superavitário em sua produção de petróleo, e consegue exportar cerca de 1,8 milhão de barris diários – embora, por outro lado, também faça importações para atender ao mix de óleos das refinarias.

Para Ardenghy, o país não terá nenhum problema para expandir as exportações, “porque o Brasil tem uma produção superavitária de petróleo, que pode abastecer tanto as refinarias quanto exportar para outros países”.

Em relação às importações feitas por algumas refinarias nacionais, elas decorrem da necessidade de compra, por exemplo, do óleo mais leve produzido no Oriente Médio, que é utilizado para a fabricação de certos tipos de lubrificantes.

“Mesmo a Arábia Saudita, que é um grande produtor, importa algum tipo de petróleo de outros países para poder fazer a produção de algumas coisas específicas”, explica.

Se vier sobretaxa dos EUA, Brasil pode mirar na expansão para China e outros países

Ainda há a possibilidade de que os Estados Unidos imponham tarifas ao Brasil. Após sua posse, Trump alertou que países como Brasil, Índia e China “taxam demais” e “querem mal aos EUA”. Anteriormente, o americano já havia citado possíveis aumentos nas alíquotas por razões políticas e caso os Brics adotassem uma moeda própria para suas trocas comerciais.

Caso confirmada a alta nas tarifas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que será respondida na mesma moeda. Uma eventual disputa comercial entre Brasil e EUA tende a reduzir a corrente de comércio entre os dois países.

Nesse caso, o Brasil precisaria buscar outros mercados. Uma possibilidade seria expandir as vendas para a China, caso ela reduza compras dos EUA. Segundo a agência Reuters, em janeiro deste ano, a China importou 6 milhões de barris de petróleo dos Estados Unidos, menos de 2% das compras totais do país asiático. No caso do gás natural, os embarques dos EUA apresentam alta volatilidade, respondendo por entre 4% e 12% das importações chinesas.

Ardenghy avalia que o país precisa “correr” para encontrar alternativas e chegar a outros mercados. “Essa é a maneira como você consegue, de forma inteligente e competitiva, ocupar mercados que, em uma outra condição,  não se conseguiu. Todo mundo vai continuar consumindo os produtos, ninguém vai deixar de consumir petróleo, suco de laranja, minério de ferro, aço. O que vai acontecer apenas é que as correntes de comércio vão se alterar”, diz.

Trump aplicou tarifas sobre o aço e o alumínio do Brasil no primeiro mandato

Durante sua primeira gestão, Trump aplicou tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiros. Em dezembro de 2019, o americano alegou que Brasil e Argentina, por meio da desvalorização de suas moedas, faziam mal ao produtor dos EUA.

“Brasil e Argentina estão promovendo desvalorização em massa de suas moedas, algo ruim para os nossos fazendeiros. Portanto, tendo efeito imediato, vou restaurar as tarifas sobre aço e alumínio que são importados pelos Estados Unidos desses países”, escreveu Trump em sua conta no então Twitter.

Naquele momento, as taxas eram de 0,9% para o aço e de 2% para o alumínio. Mas as negociações da diplomacia brasileira conseguiram reverter o cenário. Em 2018, Trump havia imposto taxas de 25% para o aço e 10% sobre o alumínio. Da mesma forma, o Brasil ficou isento das tarifas, mas enfrentou cotas que limitavam o envio dos produtos aos EUA.

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