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Do mar para o prato: peixes da Baía de Guanabara vão parar nos menus do Rio

A busca pelos sabores do Sudeste me levaram a mergulhar no mundo dos pescados e dos frutos do mar. Além de São Paulo e de Minas Gerais, a jornada para a temporada especial CNN Viagem & Gastronomia: Sabores do Brasil fez com que eu desembarcasse no Rio de Janeiro, mais especificamente do outro lado da ponte, em Niterói.

A cidade é lar da Ponta D’Areia, bairro residencial com perfil operário em razão dos estaleiros navais do entorno. Perto da água fica o cais da Ponta D’Areia, que recebe o apelido de Portugal Pequeno.

A alcunha não é em vão, já que heranças portuguesas ainda são intensas por aqui. Em séculos passados, o local era bastante movimentado e, ao longo do tempo, foi estabelecida uma colônia lusitana.

Peixes frescos viram “ouro”

Peixes frescos sempre foram uma das maiores preciosidades das embarcações que aportam neste pedacinho da cidade e, agora, a tradição tem sido retomada por chefs que valorizam toda a cadeia produtiva.

Eles ensinam que os peixes e frutos do mar dos pequenos produtores podem ser ouro, gerando mais valor agregado e rendendo bons frutos. O resultado? As matérias-primas frescas vão parar nas mesas de restaurantes reputadíssimos do Rio.

Em uma manhã no cais, observo o movimento das embarcações e vejo o trabalho dos produtores em manter a qualidade de seus produtos. Peixes como olho de cão, pargo, cherne e namorado enchem as caixas de isopor com gelo.

Os peixes, ainda esbeltos, saem rígidos da caixa e não devem ser dobrados. Quando não dobram, “é sinônimo de perfeição do seu frescor”, me conta Antonio Carlos do Amaral, pescador e ativista que atua na Ponta D’Areia.

Ele é o nome por trás do Instituto Peixe Legal, que visa promover a pesca socioambiental sustentável, apoiar a aquicultura familiar e realizar pesquisas sobre recursos pesqueiros. “Se pescarmos com alto nível de qualidade, sem perda de glicogênio, automaticamente se faz uma cota de pesca. Isso é: com qualidade, obrigatoriamente se pesca menos”, diz.

Do mar ao prato

Se o conceito de “do campo à mesa” está em alta, deveríamos prestar atenção também a um conceito parecido, que pode ser definido como “do mar ao prato”. Cruzando a Ponte Rio-Niterói, um dos melhores endereços para entendermos isso é o Satyricon, clássico restaurante em Ipanema de peixes e frutos do mar.

“Todo o nosso peixe é pescado com anzol e não com rede. É muito mais sustentável do que com rede, já que, nessa modalidade, se pega qualquer coisa”, exemplifica Bruno Tolpiakow, proprietário do Satyricon. A técnica ajuda a preservar a integridade das fibras da carne dos peixes e assegura uma textura saborosa.

Em uma tarde ensolarada na Cidade Maravilhosa, eu e Bruno nos encontramos para apreciar os pescados e frutos do mar da casa, que é referência tanto no Rio quanto no país. Aberta há mais de 40 anos, na década de 1980, as matérias-primas de altíssimo frescor se manifestam por meio de um extenso menu com antepastos, crudos, tartares, massas, peixes do dia e as escolhas do chef.

O Satyricon esbanja ainda uma tradicional bancada de gelo onde ficam expostos pescados e crustáceos para quem quiser dar uma espiadinha. Descansam ali robalo, cherne, vermelho, linguado, lagosta, cavaquinha, lagostim e camarão, para citar alguns.

Quando começamos, não existia muito a distribuição de peixes. Tínhamos os contatos dos barcos e dos barqueiros de Búzios. Íamos buscar o peixe direto com o pescador, no barco. Essa prática é mantida até hoje


Bruno Tolpiakow

Para coroar o almoço, um peixe (nem preciso dizer que está fresquíssimo) chega à mesa. Peixe bom e tratado com respeito não precisa de muita firula: seu sabor é ressaltado com ajuda de poucos temperos. O Spigola al forno, um robalo inteiro com azeite extra virgem, vinho branco, minibatatinhas e cebolinhas, foi a escolha do dia.

Peixe assado no sal grosso; peixe assado com molho de tomate, alho, vinho e orégano ou assado com ervas aromáticas e manteiga também estão entre as pedidas principais do restaurante. No fim, um brinde com vinho branco harmoniza bem.

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