O mundo progrediu no combate ao número de mortes de crianças e recém-nascidos, segundo dois relatórios do Grupo Interagências da ONU para Estimativas de Mortalidade Infantil, UN Igme na sigla em inglês.
Em todo o globo, a quantidade de óbitos para menores de cinco anos baixou para 4,8 milhões em 2023, enquanto a de natimortos obteve leve queda permanecendo a 1,9 milhão.
Mortes que poderiam ser evitadas
Estas mortes estavam sendo reduzidas pela metade desde 2000. Já o número de natimortos registrou mais de 33% de diminuição graças a investimentos globais.
Em 2022, organizações internacionais celebraram um marco histórico quando o número de mortalidade infantil ficou abaixo de 5 milhões, pela primeira vez.
Mas atualmente, os avanços se veem ameaçados e crianças demais estão perdendo a vida para causas que podem ser evitadas.
A diretora-executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, afirma que milhões de crianças estão vivas hoje por causa do compromisso global com vacinas, nutrição e acesso à água potável e ao saneamento básico.
Catherine Russell lembra que sem as políticas certas e o investimento adequado, haverá um risco de reversão dos ganhos obtidos a duras penas, e milhões perderão a vida.
©Unicef/UNI59991/Nesbitt
Prematuridade é a principal causa de morte em recém-nascidos com menos de 28 dias
Fechamento de clínicas e redução de vacinas
A maior preocupação da agência é com o corte de verbas de grandes doadores e com a redução significativa de contribuições.
A diminuição dos programas de sobrevivência infantil também está afetando a quantidade de trabalhadores de saúde, programas de vacinação, fechamento de clínicas e falta de suprimentos essenciais para tratamentos incluindo o de malária.
Países afetados por dívidas externas com altos índices de mortalidade infantil são um dos mais vulneráveis. O corte de financiamento também mina ações de monitoramento e outros programas de combate à morte de crianças.
Mesmo antes da crise atual, o ritmo do avanço nas taxas de sobrevivência de menores havia reduzido. Quase metade dos óbitos de menores de 5 anos ocorre no primeiro mês da vida, na maior parte dos casos devido a nascimentos pré-maturos e complicações durante o parto.
Muitos bebês também não resistem a doenças infecciosas, malária, diarreia ou problemas respiratórios como pneumonia.
Diagnósticos ajudam a salvar vidas
Quase 45% das mortes de bebês (natimortos) ocorrem durante o parto, geralmente por causa de infecções maternas, nascimentos prologados ou obstruções e falta de intervenção médica.
Melhorar todos os níveis do cuidado materno-infantil ajudará a salvar muitas vidas. Desde o atendimento médico nas comunidades até visitas pré-natais e a instalações de saúde, até o atendimento de qualidade passando pelas imunizações de rotina e programas de nutrição infantil.
Um outro passo para evitar essas mortes são os diagnósticos atempados para doenças infantis e o cuidado especializado para bebês e recém-nascidos.
A maioria dos falecimentos evitáveis de crianças está em países de renda baixa, onde serviços básicos não são disponíveis para todos.
Investimentos estratégicos e vontade política podem mudar esse quadro, como diz o diretor para Saúde do Banco Mundial, Juan Pablo Uribe.
Segundo ele, esse é um passo que levará ao crescimento econômico global e a oportunidades de trabalho que beneficiarão todo o mundo.

© WFP/Mohammad Hasib Hazinyar
Proibições do Talibã aumentam mortalidade materna e suicídios no Afeganistão
Local de nascimento influencia vida ou morte
Os relatórios, divulgados nesta terça-feira, mostram que o local de nascimento de uma criança determina as chances dela de sobreviver. O risco de morte antes de cinco anos de idade é 80 vezes maior nos países de renda baixa com altas taxas de mortalidade.
Um bebê nascido na África Subsaariana tem, em média, 18 vezes mais propensão ao óbito antes de seu quinto aniversário do que um bebê da mesma idade na Austrália ou na Nova Zelândia.
E essas disparidades existem também para casos de natimortos. Ali, 80% das mortes ocorrem na África Subsaariana e no sul da Ásia, onde as mulheres têm de seis a oito vezes mais chance de sofrer um parto com um bebê natimorto do que grávidas na Europa ou América do Norte.
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais, Li Junhua, disse que a redução dessas diferenças não é só uma obrigação mortal, mas um passo fundamental para o desenvolvimento sustentável.
A ONU pediu aos governos, parceiros e doadores nos setores público e privado que protejam os ganhos obtidos até agora para salvar a vida de crianças em todo o mundo.