No Sul, sabemos que vinhos, azeites e carnes suculentas dividem a mesa. Mas não podemos nos esquecer dos peixes e frutos do mar frescos, que, justamente pelo vasto litoral, também conquistam receitas e paladares exigentes. E nada melhor do que uma visita a Santa Catarina para mergulhar neste mundo.
Após um giro por vinícolas e restaurantes na Serra Gaúcha, minha passagem pelo Sul do país para a temporada CNN Viagem & Gastronomia: Sabores do Brasil terminou em Florianópolis, que, além de ser a capital de Santa Catarina, carrega a alcunha de Capital Nacional das Ostras.
O estado é o maior produtor do molusco no Brasil, representando mais de 90% da produção nacional. Deste montante, a grande maioria das toneladas vêm justamente de Floripa. E a cidade está na moda: além de ser uma Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco, dados do Airbnb mostram que Florianópolis é um dos destinos globais em alta para 2025.
Mercado Público de Florianópolis
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Mercado Público de Florianópolis é atrativo na cidade e bom ponto de partida para conhecer peixes e frutos do mar da região • CNN Viagem & Gastronomia
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Anchova, tainha, olhete e mais uma variedade de peixes de época podem ser encontrados nos boxes • CNN Viagem & Gastronomia
No centro, o Mercado Público da cidade é um bom começo para uma imersão pelos produtos frescos que chegam do mar.
Valorizado como um patrimônio histórico, artístico e arquitetônico, o local remete a várias datas do fim do século 19 e, antes, os vendedores montavam suas barraquinhas à beira-mar. Em fevereiro, o mercadão comemorou 126 anos de trajetória.
“No começo, o mercado ficava à beira do mar, antes do aterro. O barco encostava ali e se vendia (e fritava) o peixe. Assim começou também toda essa cultura ‘manezinha’ de vir ao mercado”, conta Alysson Müller, chef do restaurante Rosso e meu guia pelo local.
O mercado é hoje um dos pontos turísticos da cidade onde podemos encontrar os melhores pescados e frutos do mar. Pense em polvos de altíssima qualidade, ostras, mariscos e mexilhões. “Temos também peixes tradicionais de época, como tainha, olhete, anchova, robalo e camarão branco”, descreve Alysson.
O bacana de passear pelos boxes com o chef é compartilhar a sua relação com o endereço, que vem desde criança. Hoje, os peixes que chegam aqui abastecem o seu restaurante. “Florianópolis cheira mar. É uma ilha, com uma água mais gelada. Aqui a pesca é muito rica”, diz de forma orgulhosa.
Siri e polvo

Após as compras, chegou a hora de experimentar as matérias-primas à mesa. O Rosso foca na cozinha regional e fica à beira da Praia de Santo Antônio de Lisboa, um dos cantinhos mais especiais de Florianópolis que conserva uma alma portuguesa.
A dica é sentar em uma das mesas na varanda, bem do ladinho do mar, e deliciar-se com criações do chef. Uma delas, para começar, é o “siri em escudo de criptonita”, em que a carne de siri é refogada e vem junto de uma crostinha feita de brioche e queijo grana padano.
Como principal, é imperdível o Polvo à Rosso, prato mais famoso da casa, criado em 2010 por Alysson. O polvo chega supermacio – é tão macio que cortei pedacinhos somente com a lateral do garfo. Acompanha ainda um purê de mandioquinha, molho tarê e arroz de amêndoas com alho-poró e pirão de peixe e camarão.
Após um brinde com vinho branco, contei ao chef que este foi um dos melhores polvos que já provei.
Ostras e suas receitas
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Ostra fresca servida no restaurante Ostradamus • CNN Viagem & Gastronomia
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Depurador de ostras do restaurante Ostradamus • CNN Viagem & Gastronomia
E se tem algo que Santa Catarina entrega com qualidade, sabor e abundância, como mencionei no início do texto, são as ostras. Em Florianópolis, o Ostradamus é o endereço certo para prová-las.
“Temos uma situação geográfica que favorece o cultivo, porque nossa maré baixa é pequena e a temperatura é equilibrada, a cerca de 16ºC. Isso nos proporciona um crescimento mais rápido que difere de outras partes do mundo, como a França, em que as ostras crescem em cerca de dois anos e meio, contra os seis a oito meses daqui”, explica Jaime Barcelos, chef do Ostradamus.
Jaime começou a carreira com uma oficina mecânica. Em 1997, resolveu transformar o espaço em uma lanchonete, servindo sorvetes, caldo de cana, água de coco e cachorro-quente. A produção de ostras crescia na região e ele resolveu inovar: ampliou o local para atender a maior procura de turistas e locais pela iguaria.
Hoje, a casa serve uma série de ostras, como gratinadas e defumadas, com grana padano, com vinagrete, ao bafo, alho e óleo e até com queijo brie, manga e maçã.
Não adianta você conquistar o mundo e não saber fazer a cozinha do seu quintal. Essa é a melhor tradução: se apropriar de produtos da região, usando toda a cadeia e respeitar a natureza, porque é isso que vai gerar a nossa continuidade
Jaime Barcelos, chef do Ostradamus
O interessante é que o restaurante exibe logo na entrada um depurador, onde ficam as ostras vivas. Após a colheita, elas são submetidas ao processo de depuração, que consiste na filtragem e purificação do molusco. Elas permanecem ali por cerca de 12 horas antes de serem servidas em um processo que ajuda a eliminar riscos de contaminação por bactérias, vírus e outros microrganismos.
A casa fica na região de Ribeirão da Ilha, e da cozinha também saem anchova, tainha, olhete, moqueca e variadas receitas com camarão.
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