A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) está promovendo uma série de encontros regionais com produtores rurais, sindicatos e federações para coletar demandas e sugestões que irão compor a proposta do setor para o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2025/2026. O objetivo é garantir que as políticas voltadas ao crédito rural, apoio à comercialização, mercado de capitais e gestão de risco atendam às necessidades do campo.
As contribuições serão consolidadas em um documento e entregues ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e a outras instâncias do governo federal, servindo como base para a formulação das diretrizes do novo ciclo do PAP.
A iniciativa é coordenada pela Comissão Nacional de Política Agrícola da CNA. O primeiro evento foi realizado em Florianópolis (SC), reunindo representantes da região Sul. O próximo encontro acontece no Rio de Janeiro (RJ), com a participação de produtores da região Sudeste.
O cronograma segue com reuniões em Cuiabá (MT) para os produtores do Centro-Oeste, Belém (PA) para os representantes do Norte e Irecê (BA) para o Nordeste. Já a data e o local do encontro destinado ao Matopiba — região que compreende partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — ainda serão definidos.
Isan Rezende
DEBATE FUNDAMENTAL – “O Plano Safra é um instrumento fundamental para garantir a previsibilidade e a segurança financeira do produtor rural. Diante dos desafios do setor, é essencial que o plano contemple taxas de juros competitivas, prazos adequados para pagamento e volume de recursos condizente com a demanda. Sem isso, muitos produtores enfrentam dificuldades para financiar suas atividades, comprometendo a produção e a competitividade do agronegócio brasileiro”, afirma Isan Rezende, presidente do Instituto do Agronegócio (IA).
Rezende destaca que um planejamento eficaz deve levar em conta as particularidades de cada região e cultura, garantindo que pequenos, médios e grandes produtores tenham acesso a linhas de crédito compatíveis com suas realidades.
“O Brasil tem uma diversidade enorme de sistemas produtivos, e um plano que não considere essa diversidade pode gerar distorções, dificultando o acesso ao crédito para muitos agricultores. A previsibilidade no financiamento é essencial para que o setor continue investindo em tecnologia, sustentabilidade e produtividade.”
Para o presidente do Instituto do Agronegócio, a construção de um Plano Safra eficiente passa pela escuta ativa dos produtores e suas entidades representativas. “O diálogo com o setor é imprescindível para que o plano atenda às reais necessidades do campo. Precisamos de uma política agrícola que ofereça segurança ao produtor e fortaleça a economia rural, garantindo competitividade ao Brasil no mercado global. As reuniões regionais são uma oportunidade valiosa para consolidar propostas que reflitam as demandas do setor e resultem em um planejamento agrícola mais assertivo e eficaz”.
A iniciativa da CNA, na opinião de Rezende, reforça a importância do diálogo entre o setor agropecuário e o governo, garantindo um planejamento alinhado às realidades do campo e ao desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro.
PROPOSTAS – O Paraná foi o primeiro Estado a encaminhar propostas para o Plano Safra 2025/2026 ao Mapa. O pedido foi de R$ 597,1 bilhões, destinados a crédito, investimentos e garantias aos produtores.
O montante proposto é significativamente maior que os R$ 475,5 bilhões liberados para a safra atual. A divisão dos recursos sugerida pelo Paraná inclui:
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R$ 417 bilhões para crédito de custeio e comercialização;
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R$ 180,1 bilhões para investimentos.
Dentro desse valor, a proposta prevê:
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R$ 90 bilhões para agricultores do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf);
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R$ 86 bilhões para médios produtores do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp);
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R$ 421 bilhões para os demais agricultores.
O documento foi elaborado com apoio de órgãos e entidades do setor agropecuário, incluindo a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), a Federação da Agricultura (Faep), a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná (Fetaep) e o Sistema Ocepar.
O documento enviado ao governo federal reforça a necessidade de mais recursos para custeio, comercialização e investimentos, além de medidas como:
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Recomposição do orçamento do seguro rural;
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Reequilíbrio do teto de renda da agricultura familiar;
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Revisão das taxas de juros para alinhar com o cenário econômico.
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Seguro Rural e medidas contra impactos climáticos
Para mitigar os efeitos de condições climáticas adversas, pragas e oscilações de mercado, o Paraná propôs a liberação de R$ 4 bilhões para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). O objetivo é reduzir os custos da contratação do seguro, garantindo que mais produtores tenham acesso à cobertura.
A proposta sugere ainda mudanças no Programa de Seguro Rural, incluindo:
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Ampliação do tempo de cobertura;
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Inclusão de novas culturas na apólice;
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Subvenção diferenciada para culturas predominantes de cada região;
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Criação de seguro específico para culturas de inverno.
Outra recomendação é o fortalecimento do Monitor do Seguro Rural, com capacitação de técnicos, corretores e peritos, além de destinar recursos para a Embrapa realizar estudos sobre Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC).
Diante dos impactos climáticos, o Paraná também propôs medidas emergenciais para produtores afetados por adversidades, como:
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Prorrogação de financiamentos de custeio por 12 meses, mantendo as condições originais;
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Renegociação de operações de investimento;
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Acesso facilitado a novos créditos para recomposição de produção.
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Linha Especial para Produtores de Leite e Financiamento de Infraestrutura
O documento inclui ainda uma linha de crédito específica para produtores de leite, com o objetivo de permitir retenção de matrizes e aquisição de alimentação para o plantel, assegurando a manutenção da produção em momentos de crise.
Para investimentos, a proposta sugere a liberação de R$ 180,1 bilhões, priorizando programas como:
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Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) – R$ 11,5 bilhões;
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Programa de Financiamento à Agricultura Irrigada e ao Cultivo Protegido (Proirriga) – R$ 3 bilhões;
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Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária (Inovagro) – R$ 4,5 bilhões;
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Programa de Financiamento a Sistemas de Produção Agropecuária Sustentáveis (RenovAgro) – R$ 10 bilhões.
A proposta defende que esses programas tenham taxas de juros menores e prazos mais longos para pagamento, garantindo condições favoráveis ao crescimento do setor agropecuário.