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Centrão aproveita da indefinição da direita sobre 2026 para crescer

Os partidos do Centrão cresceram em número de prefeitos e vereadores eleitos no pleito municipal de 2024 e parte disso ocorreu devido ao apoio da direita. Diante disso, as eleições gerais de 2026 são vistas por analistas como uma chance para o bloco ampliar seu espaço nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional. O cenário de fragmentação da direita – que neste momento vê o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível e sem um sucessor definido – e da queda contínua de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode favorecer esse grupo, que ganha margem para negociar apoio tanto com aliados do petista quanto com a oposição e ainda para tentar influenciar na composição de chapas. 

Apesar de não entrar no mérito do assunto, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, reconheceu que a fragmentação da direita é inevitável caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), não entre na disputa pelo Palácio do Planalto.

“[A falta de definição de um candidato] levará a direita fragmentada para tentar retornar ao poder em 2026. Cada partido deve lançar seu próprio candidato”, disse Kassab na sexta-feira (21).

No caso da disputa pelo Palácio do Planalto, a pulverização de candidaturas permite ao Centrão negociar a indicação de vice-presidentes e, em alguns casos, até influenciar na definição de cabeças de chapa.

Com Bolsonaro inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Jr. (PSD), chegou a iniciar conversas com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para a formação de uma chapa presidencial entre as duas siglas. 

Embora o cenário nacional tenha maior destaque, é no plano local que o Centrão pode ter mais êxito em repetir os resultados de 2024. Um levantamento do Poder360 mostrou que o PL realizou 995 coligações com o PP, 942 com o União Brasil, 910 com o MDB, 843 com o PSD, e 817 com o Republicanos.

Além das alianças entre partidos do bloco, a proximidade com a sigla de Bolsonaro foi determinante para o desempenho eleitoral dessas legendas. O PSD liderou o número de prefeitos eleitos, com 891 gestores. MDB, PP, União Brasil e Republicanos elegeram 864, 752, 591 e 440 prefeitos, respectivamente. 

Com um possível desembarque de partidos do governo Lula, a tendência é que essas alianças se repitam, impulsionando o Centrão na eleição de deputados federais, estaduais, senadores e governadores.

Indefinição da direita para 2026 eleva custo do apoio político

Na leitura do cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), o contexto político de 2026 também entra no cálculo feito pelo centrão para um eventual apoio à direita. “O Centrão vive de barganhas e negociações, e essas negociações são dadas pelo contexto”, afirmou o professor. 

Para ele, a indefinição da candidatura da direita em 2026 cria um ambiente favorável para que esse grupo político aumente seu poder de barganha e eleve o custo de seu apoio.

“Se houvesse um ex-presidente muito popular, com uma base eleitoral consolidada e com condições reais de concorrer, o Centrão já poderia apresentar sua fatura de maneira mais clara. Mas, na ausência dessa definição, ele tenderá a impor mais exigências para apoiar qualquer candidatura”, explica.

Gomes compara a situação ao mercado: “Se você compra um produto com urgência, o preço será mais alto. O mesmo acontece na política. Quanto mais próximo das eleições, maior será o custo do apoio do Centrão”.

Ele avalia que o interesse desse grupo é manter a fragmentação da direita para negociar com o candidato que alcançar o segundo turno. “Se houvesse uma frente sólida e um nome forte da direita, o Centrão teria que se posicionar antes. Com a incerteza, ele pode manter negociações até o último momento e aumentar seu preço”.

Deputados de oposição divergem sobre apoio ao Centrão

A formação de alianças para as eleições de 2026 divide a oposição, especialmente no que diz respeito ao papel do Centrão no processo. Enquanto alguns parlamentares defendem a necessidade de união para derrotar o PT, outros ponderam que a aproximação com partidos desse grupo deve ocorrer sob condições claras.

Para o deputado Domingos Sávio (PL-MG), a direita não pode se dar ao luxo de excluir o centro neste momento político. “Na minha opinião, o que está em jogo é o futuro do nosso país, portanto, não é razoável esta posição equivocada e extremista de dividir a direita ou excluir o centro neste momento decisivo”, afirmou.

Segundo ele, o mais importante é a convergência em torno de valores e princípios comuns. “Assim como fizemos nas eleições municipais, os liberais e conservadores, sejam de direita ou de centro, devem se unir para derrotar o PT e a esquerda, que se une em torno do Lula”, argumentou.

Já o deputado Maurício Marcon (Podemos-RS) vê a questão como dependente do cenário eleitoral. Caso Jair Bolsonaro seja candidato, ele acredita que a direita pode “se manter mais pura”. Porém, diante de outro nome, considera as alianças necessárias. “Temos que evitar o mal maior, que é o petismo”, afirmou.

No entanto, ele ressalta que a negociação precisa ser equilibrada. “É importante, claro, ter partido na nossa base para governar, mas também se vender por qualquer coisa não dá, né? Tem que ser algo que seja bom pra todo mundo”, ponderou.

Por sua vez, Ricardo Salles (Novo-SP) defende que qualquer aliança com o Centrão deve ocorrer sob os termos da direita. “Podem ser feitas alianças, mas de uma forma que eles apoiem as nossas bandeiras e não o contrário”, declarou. Entre as pautas prioritárias, ele cita a necessidade de reequilibrar as instituições. “Nossa bandeira principal é reequilibrar os poderes entre si, respeitar os papéis e prerrogativas de cada um”, afirmou.

O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) acredita que o cenário econômico será determinante na decisão do Centrão sobre quem apoiar em 2026. “Acho que é importante ressaltar que, quando nós temos um período de grande crise econômica, e é o que nós estamos vivendo agora, todo mundo sofre. Quando todo mundo sofre, significa também que todo mundo vai pressionar os deputados e senadores a mudar os rumos do país”, disse.

Segundo ele, esse movimento pode levar o Centrão a buscar um candidato à direita. “Os rumos do país estão sendo decididos por Lula, pela esquerda, por um projeto de poder que está aprofundando a crise econômica. Por isso entendo que vai ser natural a busca do Centrão por um candidato à direita, afinal de contas, é a direita que vai resolver de novo o problema econômico em que o Brasil se encontra hoje, como já resolveu no passado”, argumentou.

Pragmatismo do Centrão estimula alianças com a direita 

Para o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec de Belo Horizonte, os partidos do Centrão possuem uma inclinação pragmática, mas sua identificação ideológica se aproxima mais da centro-direita. “Centrão são partidos de centro-direita, não são de centro-esquerda na minha avaliação. Mas, de forma pragmática, se associam, aliam e votam favoravelmente com governos de esquerda ou centro-esquerda”, explicou.

Segundo ele, essa flexibilidade permite que o grupo se adapte ao cenário político, mas, quando há uma tendência de crescimento da direita, como ocorreu nas eleições municipais de 2024, o Centrão se sente mais confortável para consolidar alianças nesse espectro. “Se o eleitorado está mais tendencialmente para a direita, você vai ter mais candidaturas à direita. Se o eleitorado está mais tendencialmente à esquerda, você vai ter mais candidaturas à esquerda”, afirmou.

Cerqueira avalia que a direita, especialmente o PL, foi o grande vencedor das eleições municipais, o que deve influenciar o cenário para 2026. “O sucesso que se fala que o Centrão teve em 2024, na verdade, eu penso diferente. O sucesso foi da centro-direita e direita. O PL foi talvez o partido que mais cresceu proporcionalmente e teve o maior volume de votos no ano passado”, destacou.

Apesar de negociações com a direita, Centrão pode ter mais espaço no governo Lula

Matéria da Gazeta do Povo mostrou que Lula aposta na distribuição de cargos para diversos partidos do Centrão para tentar manter o apoio em meio à queda de popularidade de seu governo.

O Centrão, por outro lado, pretende ocupar mais espaços na Esplanada dos Ministérios em troca do apoio ao governo, mas sem se comprometer com uma aliança com o PT para 2026.

Nesse cenário, Alckmin é visto por governistas como um nome que pode ajudar Lula a manter o apoio de partidos como MDB e PSD. A avaliação dessa ala é de que um desembarque dessas bancadas da base governista nesse momento poderia inviabilizar a aprovação de qualquer projeto do Executivo no Congresso nos próximos dois anos. Por isso, o presidente vem sendo aconselhado por aliados a colocar o vice-presidente em diálogo com os líderes desses partidos.

República

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