Tudo dava a entender que a ida do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, à Casa Branca, na sexta-feira, poderia significar um bom avanço nas negociações pela paz na Ucrânia. O plano era o líder ucraniano aceitar assinar o acordo de exploração de minerais com os Estados Unidos, e a seguir realizar uma coletiva de imprensa conjunta com Donald Trump. Mas nada saiu como esperado.
O clima na Sala Oval foi de grande tensão e terminou com a coletiva de imprensa cancelada e com Zelensky deixando a Casa Branca.
O presidente dos Estados Unidos acusou Zelensky de “ingratidão” diante de toda a ajuda que os EUA já teriam dado a Kyiv e afirmou que o ucraniano “está brincando com a Terceira Guerra Mundial”. Também presente, o vice-presidente JD Vance apontou o dedo para Zelensky, afirmando que ele “desrespeita” os norte-americanos.
Diante das acusações dos dois norte-americanos, Zelensky se recusou a fazer concessões com “o assassino” Vladimir Putin, e o encontro terminou com Trump rejeitando novas conversas com o presidente ucraniano até que Zelensky estivesse “pronto para a paz”.
Logo após sair da Casa Branca, o ucraniano recorreu às redes sociais para agradecer aos Estados Unidos por todo o “apoio”, mas reforçou que a Ucrânia “precisa de uma paz justa e duradoura”.
A reação da embaixadora ucraniana nos Estados Unidos, Oksana Markarova, ainda durante o encontro, refletiu a decepção e se tornou viral nas redes sociais.
Europa ao lado do “forte e corajoso” Zelensky
Ainda em solo português, onde esteve por dois dias em visita de Estado, o presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos primeiros líderes europeus a reagir, lembrando que “a Rússia é o agressor e o povo agredido é a Ucrânia”. Pouco depois, em uma entrevista transmitida pela RTP, o chefe de Estado francês voltou ao tema, destacando que o único líder que “brinca com a Terceira Guerra Mundial se chama Vladimir Putin”.
Mensagem semelhante foi dada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que prometeu trabalhar com o presidente da Ucrânia por uma “paz justa e duradoura” após a discussão pública em Washington, recomendando que Zelensky “seja forte, corajoso e destemido”.
Em nome do Conselho Europeu, o presidente António Costa afirmou que Zelensky “nunca estará sozinho”, enquanto a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, deixou a mesma garantia, assim como o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk.
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, declarou apenas: “Ucrânia, a Espanha está com você”, mensagem que repetiu em espanhol, inglês e ucraniano.
Seguindo a mesma linha, a Alemanha, através da ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, declarou-se “unida ao lado da Ucrânia e contra a agressão russa”. Já o atual chanceler alemão, Olaf Scholz, ressaltou que “ninguém deseja mais a paz do que o povo da Ucrânia”, e o líder conservador vencedor das últimas eleições, Friedrich Merz, reafirmou seu “apoio” a Zelensky.
Os líderes dos países bálticos – Lituânia, Letônia e Estônia – também reafirmaram que a “Ucrânia nunca caminhará sozinha”.
Fora da Europa, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, prometeu continuar apoiando a Ucrânia por uma “paz justa e duradoura”, reforçando a luta pela “democracia, liberdade e soberania” diante do invasor russo.
Na Itália, Giorgia Meloni, uma das poucas líderes europeias elogiadas publicamente por Donald Trump, sugeriu uma cúpula urgente entre os Estados Unidos, países europeus e aliados para discutir desafios comuns como a guerra na Ucrânia, a fim de evitar “divisões que enfraquecem o Ocidente”.
Já o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, conversou tanto com Trump quanto com Zelensky após a reunião na Sala Oval e garantiu a Kyiv um “apoio inabalável”.
O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, declarou que o país “apoiará a Ucrânia” pelo tempo que for necessário, pois “essa é a luta de uma nação democrática contra um regime autoritário”.
“O povo ucraniano não está apenas lutando por sua soberania nacional, mas também para afirmar o respeito pelo direito internacional”, disse o chefe de governo australiano aos jornalistas em Sydney, no sudeste do país.
Hungria defende Trump, enquanto Rússia insulta Zelensky: “Palhaço”
Na Europa, contrariando a maioria dos líderes europeus, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, defendeu que Donald Trump lutou “bravamente pela paz”.
Já do lado russo, o enviado especial nas negociações russo-americanas, Kirill Dmitriev, e o ex-presidente Dmitri Medvedev saudaram o confronto “histórico” e insultaram Zelensky, chamando-o de “porco insolente” e “palhaço da cocaína”.
Representando o Kremlin, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia destacou que o presidente norte-americano e o vice-presidente demonstraram contenção ao lidar com “o canalha” Volodymyr Zelensky, enquanto a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, acusou o ucraniano de ser “desagradável com todos”.
Trump cogita suspender apoio militar
Após o embate registrado na Casa Branca com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, está considerando suspender o envio de equipamentos militares para a Ucrânia, segundo noticiou o jornal Washington Post na sexta-feira.
De acordo com o Post, que cita uma alta autoridade norte-americana, o governo está cogitando “suspender todos os envios em andamento” para a Ucrânia devido à inflexibilidade de Zelensky em relação ao processo de paz com a Rússia.
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