Data e Hora

Projeto de irmãs gaúchas promove cuidado ao meio ambiente e combate à fome e à violência de gênero — Agência Gov

A SDV Reciclando, vencedora do Prêmio Cidadania na Periferia, promove engajamento em torno de reciclagem de resíduos, cozinha solidária, horta comunitária e melhorias no território

Durante a catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio de 2024, as gurias – como são conhecidas as irmãs Paula e Stefani Guedes –, perceberam ainda mais a importância de iniciativas de combate à fome, reciclagem, geração de renda e de capacitação na área. Da periferia de Porto Alegre (RS), na Vila Herdeiros, as irmãs já cumpriam esse propósito desde 2018 com a Cooperativa SDV Reciclando, uma das vencedoras do Prêmio Cidadania na Periferia, promovido pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).

A iniciativa não apenas gera renda, como também fortalece laços de solidariedade entre as mulheres da comunidade, inspirando-as a lutar por seus direitos e a conquistar uma vida com mais autonomia. Premiada no eixo de número seis do Prêmio – um dos que tiveram maior número de inscritos –, foi reconhecida por oferecer soluções comunitárias para segurança alimentar e alimentação saudável.

Para Anna Karla da Silva Pereira, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade (ASPAD) do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), a premiação é um marco na construção dos editais de direitos humanos no governo federal, e reforça que a garantia da alimentação saudável e a possibilidade de fortalecer ações que garantem comida na mesa de milhares de pessoas é uma prioridade do governo.

“Demarca uma das políticas mais importantes construídas pelo presidente Lula: o combate à fome. Pensar nas estratégias e tecnologias sociais que são uma marca histórica na luta da sociedade civil e no que diz respeito a direitos humanos foi nosso marcador para a construção desse eixo”, afirma.

União entre mulheres

Imersas em um contexto de violência doméstica e criminalidade, Paula e Stefani Guedes decidiram, juntas, recomeçar a vida no empreendedorismo. Em um salão de beleza da própria comunidade, começaram a ser referência para outras mulheres que enxergavam, nas irmãs, exemplo de superação, honestidade e força.

Passado um tempo, decidiram abrir mão do salão e investir em um projeto sólido e começaram a recolher resíduos recicláveis gerados na comunidade antes de o caminhão de coleta passar nas casas. Assim, perceberam que podiam contribuir para a mudança da realidade das mulheres de sua comunidade, além de concentrar os resíduos para designação correta, promovendo a sustentabilidade local.

“A gente ainda observa a situação de mulheres negras periféricas aqui no bairro que passam por dificuldades, e a gente sabe que há a possibilidade de vida digna, de respeito lá fora. Corremos atrás disso: do nosso respeito, do empoderamento feminino para mostrar que a gente tem valor na sociedade e saber que a nossa luta não é em vão”, declara Stefani.

Paula ainda destaca que ela e a irmã sempre buscam mostrar a importância da educação e do conhecimento dos direitos para a autonomia das mulheres da comunidade. Com eventos e rodas de conversa, elas discutem os desafios que enfrentam e buscam soluções coletivas para as demandas trazidas. “Esse é o segredo: saber que a gente não é melhor que ninguém, mas quando se coloca como uma coluna para servir aqui na Terra, não tem como dar errado”, comenta.

Cozinha solidária

(Foto: SDV Reciclando/Divulgação)

Apesar de a renda gerada pelo projeto ajudar as mulheres – majoritariamente mães –, com a divisão dos valores arrecadados entre as catadoras, as irmãs observavam que muitas famílias ainda não tinham condições de manter uma alimentação adequada. Assim, depois das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, elas passaram a preparar refeições e oferecer para a comunidade a cada 15 dias e, depois, ainda criaram uma horta comunitária para uso geral da população local.

“A gente conseguiu entender a importância da cozinha solidária, que tinha ganhado força na catástrofe. Mas, para manter ela, seria muito difícil, porque a gente acolheu mais de 500 famílias durante as enchentes”, conta Paula.

O desafio foi ficando menor com o tempo: os mercados locais começaram a apoiar a iniciativa com doações de alimentos e as irmãs chegaram a conseguir entregar refeições uma vez por semana. Com as enchentes de maio, no entanto, a demanda por ajuda aumentou e elas começaram a pedir apoio nas redes sociais.

Uma solução em meio ao caos

Paula relembra que, à época da catástrofe climática, elas chegaram a receber cestas básicas distribuídas pelo Governo Federal por meio da da Ação de Distribuição de Alimentos do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), mas que não foi suficiente. Com tantas pessoas atingidas e muitas delas já em contextos de vulnerabilidade antes mesmo das enchentes, a carência por comida ainda era muito grande.

Foi quando elas receberam a notícia sobre o Prêmio Cidadania na Periferia, através da professora Maíra Baé, diretora do Campus Viamão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), onde as duas haviam começado a cursar Tecnologia em Gestão Ambiental.

“As mulheres do SDV Reciclando são pura potência. Esse coletivo é um exemplo vivo de como a organização comunitária pode transformar realidades, unindo a preservação ambiental à geração de trabalho e renda”, afirma Maíra.

Segundo a diretora do IFRS, Paula e Stefani representam o resultado de políticas públicas educacionais da esfera federal que ampliam oportunidades: são egressas do Colégio de Aplicação da UFRGS e graduandas dedicadas a conectar o conhecimento acadêmico ao saber popular, consolidando esse diálogo em todas as ações que coordenam.

Paula relata que o prêmio chegou para impulsionar o trabalho que passou a ser ainda mais necessário nas enchentes. “Posso garantir que, na nossa comunidade, ele chegou num tempo de devastação”, relembra.

Para Maíra, o Prêmio Cidadania na Periferia é um reconhecimento merecido do grande impacto social que as irmãs promovem. “É um exemplo inspirador de como é possível construir um futuro mais sustentável e justo. Vida longa ao coletivo e a todas as mulheres que fazem essa transformação acontecer!”, celebra.

O prêmio maior que o Prêmio

(Foto: SDV Reciclando/Divulgação)
(Foto: SDV Reciclando/Divulgação)

Fernanda Silva, de 38 anos, é mãe de três filhos e trabalha há quatro anos na cooperativa. Ela já passou por situações de insegurança alimentar e considerou fundamental o reforço financeiro recebido pela SDV por meio da premiação do MDHC. “O apoio veio em boa hora no final do ano, no tempo da enchente, que deu para ajudar a minha família, a cozinha solidária e outras famílias”, diz.

A chefe da ASPAD destaca que a capacidade de transformação social foi o grande diferencial dessa organização. “Ficamos felizes com a confiança e o reconhecimento desse trabalho na certeza que todas essas experiências estão atuando para que sejamos novamente um país sem fome”, diz.

Anna Karla complementa que a SDV Reciclando foi uma das premiadas pelo trabalho que promove junto a sua comunidade, “não apenas alimentando, mas produzindo cidadania e dando oportunidade de muitas mulheres se organizarem coletivamente” . De acordo com ela, o prêmio reforça o compromisso do MDHC de olhar para as boas práticas de direitos humanos nos territórios e construir políticas públicas para o povo brasileiro.

Além do trabalho coletivo como catadoras e da distribuição de refeições, as irmãs começaram a implementar uma moeda social. No SDV Sustentável, a cada resíduo levado no galpão, as pessoas podem trocar por um vale com valor simbólico. “A cada 15 dias, abrimos um espaço de troca onde armazenamos itens reaproveitados que chegam na reciclagem ou são doados por clientes, como roupas, calçados, eletrodomésticos, móveis e materiais diversos”, explicam. Elas também criaram o projeto JSCF (Junto Sonhando Construindo Futuros e Clube de Mães), com oficinas de futebol, vôlei, teatro, dança, grafite e canto, com incentivo para interação entre mães e filhos.

As irmãs relembram a profunda esperança trazida pela premiação quando passavam pelas enchentes e lidavam com problemas graves de saúde física, mental, falta de abrigo e fome. “É como estar na escuridão com uma chama pequena, né? E quando vem esse prêmio, ele acende a chama e dá luz para continuarmos aqui cumprindo a missão”, finaliza Paula.

Por MDHC

Agência Gov

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