A busca pelos sabores do Sudeste me levaram a mergulhar no mundo dos pescados e dos frutos do mar. Além de São Paulo e de Minas Gerais, a jornada para a temporada especial CNN Viagem & Gastronomia: Sabores do Brasil fez com que eu desembarcasse no Rio de Janeiro, mais especificamente do outro lado da ponte, em Niterói.
A cidade é lar da Ponta D’Areia, bairro residencial com perfil operário em razão dos estaleiros navais do entorno. Perto da água fica o cais da Ponta D’Areia, que recebe o apelido de Portugal Pequeno.
A alcunha não é em vão, já que heranças portuguesas ainda são intensas por aqui. Em séculos passados, o local era bastante movimentado e, ao longo do tempo, foi estabelecida uma colônia lusitana.
Peixes frescos viram “ouro”
-
1 de 3
Daniela Filomeno e Antonio Carlos do Amaral conversam sobre os pescados do dia no cais da Ponta D’Areia • CNN Viagem & Gastronomia
-
2 de 3
Cais da Ponta D’Areia, em Niterói, recebe a alcunha de Portugal Pequeno • CNN Viagem & Gastronomia
-
3 de 3
Local foi colonizado por portugueses e mantém alma lusitana • CNN Viagem & Gastronomia
-
Peixes frescos sempre foram uma das maiores preciosidades das embarcações que aportam neste pedacinho da cidade e, agora, a tradição tem sido retomada por chefs que valorizam toda a cadeia produtiva.
Eles ensinam que os peixes e frutos do mar dos pequenos produtores podem ser ouro, gerando mais valor agregado e rendendo bons frutos. O resultado? As matérias-primas frescas vão parar nas mesas de restaurantes reputadíssimos do Rio.
Em uma manhã no cais, observo o movimento das embarcações e vejo o trabalho dos produtores em manter a qualidade de seus produtos. Peixes como olho de cão, pargo, cherne e namorado enchem as caixas de isopor com gelo.
Os peixes, ainda esbeltos, saem rígidos da caixa e não devem ser dobrados. Quando não dobram, “é sinônimo de perfeição do seu frescor”, me conta Antonio Carlos do Amaral, pescador e ativista que atua na Ponta D’Areia.
Ele é o nome por trás do Instituto Peixe Legal, que visa promover a pesca socioambiental sustentável, apoiar a aquicultura familiar e realizar pesquisas sobre recursos pesqueiros. “Se pescarmos com alto nível de qualidade, sem perda de glicogênio, automaticamente se faz uma cota de pesca. Isso é: com qualidade, obrigatoriamente se pesca menos”, diz.
Do mar ao prato
-
1 de 2
Satyricon preza pelos pescados e frutos do mar mais frescos do dia, com amplo cardápio inspirado pela cozinha mediterrânea • CNN Viagem & Gastronomia
-
2 de 2
Spigola al forno é robalo inteiro servido com azeite extra virgem, vinho branco, mini batatinhas e cebolinhas • CNN Viagem & Gastronomia
Se o conceito de “do campo à mesa” está em alta, deveríamos prestar atenção também a um conceito parecido, que pode ser definido como “do mar ao prato”. Cruzando a Ponte Rio-Niterói, um dos melhores endereços para entendermos isso é o Satyricon, clássico restaurante em Ipanema de peixes e frutos do mar.
“Todo o nosso peixe é pescado com anzol e não com rede. É muito mais sustentável do que com rede, já que, nessa modalidade, se pega qualquer coisa”, exemplifica Bruno Tolpiakow, proprietário do Satyricon. A técnica ajuda a preservar a integridade das fibras da carne dos peixes e assegura uma textura saborosa.
Em uma tarde ensolarada na Cidade Maravilhosa, eu e Bruno nos encontramos para apreciar os pescados e frutos do mar da casa, que é referência tanto no Rio quanto no país. Aberta há mais de 40 anos, na década de 1980, as matérias-primas de altíssimo frescor se manifestam por meio de um extenso menu com antepastos, crudos, tartares, massas, peixes do dia e as escolhas do chef.
O Satyricon esbanja ainda uma tradicional bancada de gelo onde ficam expostos pescados e crustáceos para quem quiser dar uma espiadinha. Descansam ali robalo, cherne, vermelho, linguado, lagosta, cavaquinha, lagostim e camarão, para citar alguns.
Quando começamos, não existia muito a distribuição de peixes. Tínhamos os contatos dos barcos e dos barqueiros de Búzios. Íamos buscar o peixe direto com o pescador, no barco. Essa prática é mantida até hoje
Bruno Tolpiakow
Para coroar o almoço, um peixe (nem preciso dizer que está fresquíssimo) chega à mesa. Peixe bom e tratado com respeito não precisa de muita firula: seu sabor é ressaltado com ajuda de poucos temperos. O Spigola al forno, um robalo inteiro com azeite extra virgem, vinho branco, minibatatinhas e cebolinhas, foi a escolha do dia.
Peixe assado no sal grosso; peixe assado com molho de tomate, alho, vinho e orégano ou assado com ervas aromáticas e manteiga também estão entre as pedidas principais do restaurante. No fim, um brinde com vinho branco harmoniza bem.
Duas praias brasileiras estão entre as melhores do mundo; saiba quais