Nos últimos anos, o mundo da coquetelaria tem passado por uma transformação significativa: a queda no consumo de álcool. O fenômeno, impulsionado por uma mudança no comportamento do consumidor, reflete um interesse crescente por saúde, bem-estar e experiências que não dependem exclusivamente do teor alcoólico.
Diante desse cenário, tanto os bartenders quanto a indústria têm se reinventado, desde a criação de menus até o desenvolvimento de destilados sem álcool.
Pesquisas apontam que as novas gerações, especialmente os Millennials e a Geração Z, estão consumindo menos álcool do que seus antecessores. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, o conceito de sober curiosity (curiosidade sobre a sobriedade) tem ganhado força. Trata-se de um movimento em que os consumidores exploram alternativas ao álcool sem abrir mão da experiência social dos bares. O Dry January, desafio anual de um mês sem álcool, e o crescimento do mercado de destilados não alcoólicos são apenas alguns sinais dessa mudança.
A preocupação com a saúde mental, a qualidade do sono e até mesmo a performance no trabalho fazem com que mais pessoas optem por esses caminhos.
Com essa mudança no comportamento do público, a indústria da coquetelaria precisou se adaptar. Hoje, bares renomados, muitos deles na lista dos World’s 50 Best Bars, já incluem menus dedicados a coquetéis sem álcool ou de baixo teor alcoólico (low-ABV). Os bartenders têm explorado ingredientes inusitados, como fermentados naturais, shrubs, bitters artesanais e destilados sem álcool, criando combinações tão complexas quanto qualquer drinque clássico.
Um exemplo dessa inovação é o uso de produtos como o Seedlip, uma marca de destilados sem álcool que oferece complexidade de aromas e sabores, permitindo a criação de coquetéis estruturados. Outra tendência é o uso de técnicas da alta gastronomia para criar camadas de sabor — infusões, defumados e reduções estão cada vez mais presentes nos menus zero-proof (termo usado para drinques sem álcool).
Um dos maiores desafios dessa mudança é garantir que a experiência de ir a um bar continue sendo única. Beber um coquetel vai além do sabor; envolve textura, temperatura, apresentação e o ritual de preparo.
Se há alguns anos os coquetéis sem álcool eram vistos como opções secundárias no menu, hoje eles estão no centro da revolução da coquetelaria. A tendência não indica um declínio do prazer em beber, mas talvez apenas uma redefinição do que é um coquetel.
A pergunta que fica não é se o consumo de álcool continuará a cair, mas sim como a coquetelaria continuará a evoluir para atender a essa nova geração.
*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia.
Quem é Thiago Bañares
Bañares, formado em gastronomia pela FMU (SP), foi considerado pelo ranking “Bar World 100”, organizado pela importante publicação Drinks International, uma das 100 pessoas mais influentes da indústria global de bares. Seu restaurante/bar Tan Tan figura – pela terceira vez consecutiva – na lista dos melhores bares do mundo no “The World’s 50 Best Bars”. Ele comanda o também premiado Kotori, considerado o 50° melhor restaurante da América Latina pelo “Latin America’s 50 Best Restaurants”; e está à frente do intimista The Liquor Store, casa que privilegia a conexão entre cliente e bartender e que entrega coquetéis preparados com excelência.
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