Data e Hora

Safra da uva de 2025 deve ser a melhor da década para sul do Brasil

Os produtores de uvas da serra gaúcha chegaram, finalmente, a seu período de redenção. Após impacto forte da estiagem em 2023 e as enchentes que devastaram o estado em 2024, a safra de 2025 deverá ser a melhor da década. Há quem diga que até o resultado de 2020 deverá ser superado — ano considerado a “safra das safras”.

Bom, este foi o panorama que consegui colher ao visitar inúmeros produtores de vinhos do Rio Grande do Sul durante o início de fevereiro, época de vindima para os gaúchos.

A colheita da uva acontece entre janeiro e março, iniciando com as brancas e, posteriormente, as tintas, salvo alguma variedade para preparos específicos como os late harvest.

Mais de 860 mil toneladas da fruta devem ser colhidas até o final do período, conforme a Emater/RS. Esse cenário representa um acréscimo de quase 50% comparado ao mesmo período do ano anterior.

Flores da Cunha

Em Flores da Cunha, na região batizada com a indicação de procedência “Altos Montes”, as uvas colhidas até o momento estão preservando bons índices de açúcar e acidez, duas características essenciais para a produção de ótimos vinhos.

Felipe Bebber, proprietário da vinícola Bebber, comentou que a amplitude térmica durante o cultivo das videiras foi bastante grande. Desta forma, as uvas conseguiram ter um ótimo percentual de acidez e um enorme potencial de guarda.

“São resultados espetaculares, temos vindima qualitativa num nível muito alto. O destaque vai para a Pinot Noir, utilizada para as bases dos nossos espumantes, mas em especial a Chardonnay, tanto para base espumante quanto para elaboração de vinho tranquilo num nível qualitativo muito bom. O grande potencial dos ácidos naturais da uva de uma maneira mais intensa faz acreditarmos que essa vai ser uma das melhores vindimas”, disse.

Por falar na Bebber, é impossível não pensar em como ficará um dos ícones da empresa, o rótulo “Maragato”, que leva Merlot e Cabernet Franc da Serra Gaúcha e Tannat e Cabernet Sauvignon da Campanha.

Além disso, também destaco que provei alguns vinhos em processo de fermentação, nos tanques. Apenas com poucas horas em contato com as leveduras, eles já mostravam “corpo de gente grande”. Acidez elevada e aromas varietais de dar inveja!

Bento Gonçalves

No coração da produção vinícola do Rio Grande do Sul, Bento Gonçalves também vai sendo surpreendida com a extrema qualidade das uvas colhidas semanalmente.

Enquanto abria uma garrafa do espumante 130 Rosé, o sempre querido amigo e diretor-executivo da Casa Valduga, Eduardo Valduga, me disse que esta é a “safra das nossas vidas”, principalmente pelo Rio Grande do Sul ter dado a volta por cima após as fortes enchentes de 2024.

“Stêvão, essa é uma das melhores, senão, a melhor safra dentro do meu tempo! Temos um ano que teve boas horas de sol com baixo índice pluviométrico no período de floração e maturação dos frutos! Aqui, nós não conseguimos esquecer da tragédia do ano de 2024, mas acredito que o que levou a esse resultado foi a resiliência do povo como um todo”, encerrou.


Brut Rosé
Garrafa 130 Rosé • Acervo Famiglia Valduga

O cenário também é bastante parecido na tradicional vinícola Dom Cândido, uma das mais antigas da região. Durante minha visita aos vinhedos da empresa, pude “provar direto do pé” a qualidade das uvas que serão colhidas nos próximos dias. Estavam doces e em um aspecto visual muito bom, já que, geralmente, as uvas viníferas não são muito afáveis para o nosso paladar.

Tairane Elisiane Pires, enóloga da Dom Cândido, pontuou que a produção de 2025 poderá permanecer por anos em caves até serem consumidos.

“As uvas estão chegando com uma graduação de açúcar alta, então acredito que os vinhos vão ter um teor alcoólico um pouquinho maior. Isso vai influenciar bastante no tempo de guarda e na estrutura dos vinhos da safra de 2025. Então, acredito que vão ter vinhos aí bem interessantes”.

Pinto Bandeira

Dona da única denominação de origem para vinhos espumantes no Brasil e referência no mundo, Pinto Bandeira se prepara para mais uma safra espetacular.

Na vinícola Don Giovanni, boa parte dos parreirais de Chardonnay, Pinot Noir já foram colhidos e fermentados e indicam resultados que fazem qualquer apaixonado por vinho se emocionar.

Com o diretor da vinícola, Daniel Panizzi, experimentei algumas bases para espumante que demonstraram frescor e uma miscelânea de aromas frutados que logo passarão por uma segunda fermentação em garrafa.

Isso tudo é muito positivo porque o ano de 2024 foi dificílimo para os produtores, seja pela colheita prejudicada pelas chuvas, mas principalmente pelo impacto severo no turismo da região.

“Temos, em 2025, uma safra excepcional, podendo sim ser comparada a safra de 2020, quando tivemos um ponto de maturação das principalmente para uvas tintas. Mas, 2025 foi um ano emblemático em que vínhamos de safras mais difíceis e 2020 ganhou esse destaque, mas 2021, 2022 e 2023 também foram safras muito importantes.”

Daniel, que também é presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), ressalta ainda a produção em grande escala das uvas americanas, também chamadas de “uva de mesa” — aquelas que estamos acostumados a comer ou a fazer suco.

“Chamo atenção aqui também para as uvas americanas, principalmente as que dão origem aos sucos de uva. Elas têm uma produção maior esse ano, o que é muito importante para regularização de estoques, porque tivemos uma falta, especificamente, nesse produto… Não chegou. Isso ocasionou uma diminuição da oferta e aumento de preço no mercado, então a safra de 2025 é importante também para isso”, pontuou.

Bom Retiro


Vinícola Thera se prepara para marcar a produção de 150 mil garrafas • Vinícola Thera/ Reprodução

Saímos da serra gaúcha e fomos para Bom Retiro, em Santa Catarina. Conversei com o Abner Zeus Freitas, proprietário da vinícola Thera, que também comemorou bastante o resultado da safra que deve marcar a produção de 150 mil garrafas de vinhos na empresa.

Donos de rótulos excepcionais como os espumantes da linha Auri e Anima, a produção está concentrada em 22 hectares produtivos, plantados em solo argiloso em cerca de 900 metros de altitude.

Segundo Abner, as temperaturas extremas registradas ao longo da maturação conseguiram conferir uma carga de acidez maior ainda para os bagos das uvas, principalmente para a Sauvignon Blanc que é considerada a “joia” da serra catarinense.

*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia

Sobre Stêvão Limana


O jornalista Stêvão Limana com taça de vinho na mão
O jornalista Stêvão Limana • Divulgação

Stêvão Limana é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pós-graduado em enologia, postulante a sommelier profissional e maratonista nas horas vagas. Na TV, fala sobre política e eleições, enquanto na internet foca em vinhos e gastronomia.

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