(UOL/FOLHAPRESS) – A etapa do Mundial de Surfe em Abu Dhabi nem começou, mas já esteve envolvida em polêmica. A escolha dos Emirados Árabes como palco da competição gerou preocupações sobre a segurança da bicampeã mundial Tyler Wright, primeira surfista de elite a se identificar publicamente como bissexual.
CRÍTICAS À WSL
A indignação partiu de Lilli Wright, esposa de Tyler, e também do seu irmão Mikey Wright, ex-surfista da elite. Ele criticou a WSL por realizar uma etapa em um país onde sua irmã poderia sofrer represálias simplesmente por ser quem é.
“Vocês apoiaram a bandeira LGBTQIA+ no ombro dela, mas agora querem silenciá-la para levá-la a um local onde ela está em risco”, escreveu Mikey nas redes sociais da entidade.
Lilli, por sua vez, reconheceu o privilégio de poder falar sobre o tema, mas destacou a contradição de realizar um evento internacional em um país onde a existência de atletas LGBTQIA+ pode ser um problema. “A identidade de Tyler não deveria ser um obstáculo em seu ambiente de trabalho”, afirmou.
Em outra publicação, Lilli reforçou a gravidade da situação: “É difícil descrever o impacto emocional disso tudo. Estamos falando da segurança da minha esposa. Se ela decidir competir, saberemos que há leis que podem colocá-la em risco simplesmente por quem ela ama. Isso não deveria ser algo com que um atleta precisa se preocupar”, escreveu em outubro do ano passado.
LEIS LOCAIS
Nos Emirados Árabes Unidos, a homossexualidade é ilegal e pode levar a penas severas. Segundo um relatório do Departamento de Estado dos EUA de 2020, relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo podem resultar em até 14 anos de prisão.
A legislação do país é parcialmente baseada na Sharia, um sistema jurídico derivado dos ensinamentos islâmicos que pode prever punições rigorosas para comportamentos considerados imorais ou contrários à religião.
Embora não haja registros da aplicação da pena de morte nesses casos específicos, a lei islâmica permite essa possibilidade em algumas interpretações.
HÁ OPÇÃO?
Uma alternativa para Wright seria não disputar a etapa. No entanto, o regulamento da WSL não prevê a possibilidade de um surfista faltar a uma competição do Mundial devido a riscos à sua identidade ou segurança. Caso ela decida não comparecer sem um atestado médico, poderia ser multada em até US$ 50 mil, além de perder pontos valiosos na briga pelo seu terceiro título mundial – ela é a atual líder do ranking, já que venceu o campeonato de estreia desta temporada, em Pipeline, no Havaí.
Tyler – ou qualquer outro surfista – também não pode criticar publicamente a escolha do local ou a decisão da WSL. O contrato assinado com a entidade proíbe declarações negativas sobre o circuito e prevê multa de mais US$ 50 mil, além de uma possível suspensão.
Até o momento, a WSL não se manifestou publicamente sobre as críticas.
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