(FOLHAPRESS) – As frases do atacante Vinicius Junior após a vitória por 3 a 2 sobre o Manchester City, de virada, na terça-feira (11), pelos “playoffs” da Champions League, soaram reconfortantes para aqueles que desejam sua permanência no Real Madrid. Mas a mensagem não deve necessariamente ser levada ao pé da letra.
Eleito o melhor da partida pela Uefa (União das Associações Europeias de Futebol), com participação nos dois gols que mudaram a história do jogo no finalzinho, o brasileiro deixou o gramado do Etihad Stadium, em Manchester, sorrindo. Ele procurou indicar que está próximo o acerto para a renovação de seu contrato, cuja versão atual tem término previsto para 2027.
“Sempre é muito emocionante poder abrir conversas com o Real Madrid pela minha renovação. Tenho contrato até 2027, mas sempre falei que o meu desejo é jogar aqui muito tempo, fazer história”, afirmou. “Se Deus quiser, nos próximos dias, que a gente já possa resolver toda a negociação e eu possa ficar aqui por muito mais tempo.”
Foi de fato, uma boa jornada na relação, que se iniciou em 2018 e vive um momento de instabilidade. Gente que a acompanha de perto, como o jornalista espanhol Carlos Meneses, da agência EFE, crê que as declarações do atacante de 24 anos devam ser vistas como um “discurso diplomático”.
“Acho que o Vinicius tem o orgulho profundamente ferido desde que não ganhou a Bola de Ouro. A chegada do Mbappé complicou a situação. Vini sente que deveria liderar o projeto do Real Madrid depois de ganhar duas Champions”, disse Meneses.
O rendimento diminuiu após a perda da Bola de Ouro, entregue pela revista France Football ao espanhol Rodri, do City, no fim de outubro. A escolha como o melhor jogador da temporada em premiações de menor prestígio, como o Fifa The Best e o Globe Soccer Awards, não parece ter servido de consolo.
Foram três gols e duas assistências nas dez partidas disputadas em 2025 -números que não seriam ruins para um jogador comum, mas Vini não é um jogador comum. Na véspera do mais recente duelo com City, o Marca criticou sua forma: “Não é o mesmo há muito tempo”.
O jornal apontava que ele havia perdido oito das 20 partidas anteriores do clube, metade por lesão, metade por suspensão. Se liderava a artilharia da equipe na temporada até o início de novembro, com 12 gols, agora, com 17, foi ultrapassado por Mbappé, que tem 24. Daquele momento para cá, marcou menos também do que Rodrygo e Bellingham.
“Creio que tudo ainda seja parte da negociação”, disse o jornalista José Félix Díaz, do Marca. “Não acredito que um jogo bom ou ruim determinará se ele deixará o Madrid ou não”, acrescentou Juan Ignacio Ochoa, do mesmo veículo.
O contrato de Vinicius Junior vai até junho de 2027, com multa rescisória de 1 bilhão de euros (cerca de R$ 5,3 bilhões). Seu salário anual é de aproximadamente 10,5 milhões de euros (R$ 56 milhões).
Há uma semana, causou repercussão um bate-boca que ele teve em campo com o meio-campista Luka Modric na vitória por 3 a 2 sobre o Leganés, pelo Campeonato Espanhol.
O experiente jogador croata, que utilizava a braçadeira de capitão, cobrou o brasileiro por não ter voltado para marcar uma jogada. Ele respondeu. No fim, Modric tentou colocar panos quentes, mas viu o técnico italiano Carlo Ancelotti ficar a seu lado.
“Modric estava bravo com Vinicius? Não sei o que aconteceu, mas, se Modric disse alguma coisa, então está correto. Sempre concordo com Luka Modric”, afirmou, na ocasião, antes de também procurar minimizar a questão.
“Todos no clube o amam”, disse o jornalista Eduardo Burgos, do diário As, apontando que Vinicius é uma figura querida. “Ancelotti é quase como uma figura de avô, e ele [Vinicius] é um de seus protegidos, mas Modric é a voz do vestiário. No final, o que diz é uma lei.”
Toda a situação se deu diante dos ambiciosos olhares da Arábia Saudita, que querem levar o brasileiro para sua rica liga nacional. Crescem desde o último ano as especulações de que o fluminense de São Gonçalo possa se transferir ao país e virar o rosto da Copa do Mundo de 2034, organizada pela monarquia.
“Eu não sei de nada, ninguém conversou comigo”, afirmou o atacante, após o jogo de terça. “Tenho que falar com o presidente [Florentino Pérez]. Tomara que eu possa continuar aqui por muito tempo. Essa competição nos dá um algo a mais, e eu quero fazer história”, acrescentou.
Em janeiro, o jornalista inglês Ben Jacobs afirmou no podcast Givemesport que o Al Ahli pretende oferecer 350 milhões de euros (R$ 2,1 bilhões) para tirar o jogador do Real Madrid.
“A suposta oferta da Arábia Saudita parece que vai ser utilizada pela equipe do Vinícius para melhorar a oferta de renovação com o Real, mas o presidente Florentino Pérez tem demonstrado que não aceita esse tipo de trunfo”, disse Carlos Meneses, da EFE.
Outros jogadores históricos do clube madrileno, como Cristiano Ronaldo e Sergio Ramos, perderam a queda de braço com Pérez. A situação não é a mesma de Vinicius, bem mais jovem do que eram Ronaldo e Ramos em seu adeus. De qualquer maneira, parece claro que o tom de “acerto nos próximos dias” não é o mais preciso.
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