Peguei agora no armário meu álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 2014, tenho um de capa dura completo contando com cartelas extras com fotos de jogadores que não estavam inicialmente no álbum. O Brasil abre o álbum por ser o anfitrião e cabeça-de-chave do Grupo A. Thiago Silva, David Luiz, Luiz Gustavo, Oscar, Bernard, Neymar e Hulk estão, nessa ordem, entre os 17 atletas do país destacados no álbum da Panini.
Hoje, eles estão defendendo, respectivamente, Fluminense, Fortaleza, São Paulo, São Paulo, Atlético-MG, Santos e Atlético-MG. Na época da Copa de 2014, eles jogavam, respectivamente, no Paris Saint-Germain, no Chelsea, no Wolfsburg, no Chelsea, no Shakhtar Donetsk, no Barcelona e no Zenit.
Os demais jogadores do Brasil no álbum não interessam muito para este post, mas é curioso conferir quem está aposentado (Júlio César, Paulinho, Ramires, Hernanes, Fred e, agora, Marcelo), quem está ainda na ativa (Dante, no Nice, e Willian, no Fulham) e quem foi condenado a prisão (Daniel Alves e Robinho).
Jô, que também chegou a ser preso (por não pagamento de pensão alimentícia), aparece em uma dessas cartelas extras que peguei depois de aquele Mundial ter começado. O atacante estava em grande fase no Galo na época da Copa e hoje está no Itabirito. Inclusive ele será adversário do Atlético-MG na última rodada da fase de grupos do Campeonato Mineiro.
Assim como Jô, que atuará na Série D com o Itabirito, há um outro jogador da seleção brasileira da Copa de 2014 que está atuando em território brasileiro e que, por enquanto, está fora da elite: o volante Fernandinho, aos 39 anos, deu adeus ao Athletico-PR após o rebaixamento do clube paranaense, porém não definiu seu futuro (ele estava no Manchester City quando aconteceu a Copa no Brasil). Hora de virar a página agora.
O segundo time do álbum é a Croácia. Dentre as “figurinhas croatas carimbadas”, estão Modric, ainda queimando lenha no Real Madrid, Perisic, Kovacic, Rakitic, Lovren, Olic e Mandzukic. Nenhum deles jogou no futebol brasileiro, mas o atacante Eduardo da Silva passou pelo Flamengo e pelo Athletico.
O México de Chicharito, Raúl Jiménez e Ochoa não teve nenhum de seus convocados atuando em clube brasileiro. Camarões também não exportou nenhum atleta da Copa de 2014 para o nosso país, mas Eto’o era muito lembrado aqui pela torcida do Flamengo por ser supostamente pior do que o Obina.
O Grupo B é o da Espanha, que chegou ao Brasil em 2014 como campeã vigente. Só vimos Casillas, Piqué, Alba, Busquets, Xabi Alonso, Xavi, Iniesta, Fàbregas, David Silva, David Villa e companhia em clubes estrangeiros, mas dois integrantes daquela excelente seleção espanhola que tomou um 5 a 1 na Fonte Nova da minha amada Holanda atuaram em equipes brasileiras.
O lateral-direito Juanfran passou pelo Tricolor do Morumbi. O atacante Diego Costa, que talvez estivesse na seleção brasileira em 2014 se Felipão o quisesse mesmo, defendeu nos últimos anos o Atlético-MG, o Botafogo e o Grêmio (atualmente, está sem time, mas não estranharia se aparecesse ainda na nossa Série A). Neste ano, teve mais de um clube grande brasileiro sondando e sonhando com a contratação do badalado zagueiro Sergio Ramos (o técnico Vanderlei Luxemburgo foi quem o tirou de vez da lateral-direita), que foi para o Monterrey, do México.
Memphis Depay, então jogador do PSV com 20 anos de idade, defendeu a Holanda na Copa de 2014. Hoje, ele é um destaque do Corinthians, sendo o único atleta europeu do Mundial do Brasil que joga atualmente em nosso futebol. Memphis inclusive fez um gol em Itaquera no Mundial na vitória laranja de 2 a 0 sobre o Chile, seleção que tinha Mena (lateral que defendeu Santos, Cruzeiro, São Paulo, Sport e Bahia), Isla (jogou no Flamengo), Vidal (passou pelo Flamengo e pelo Athletico), Pinilla (ex-Vasco), Valdivia (ídolo do Palmeiras), Vargas (Grêmio e Atlético-MG), Beausejour (Grêmio), Felipe Gutiérrez (Internacional), Medel (Vasco), Aránguiz (Inter) e o goleiro Johnny Herrera (passou brevemente pelo Corinthians em 2006). O Grupo B ainda tinha a Austrália do técnico Ange Postecoglou, hoje no Tottenham. Mas nenhum australiano do álbum veio jogar no nosso país.
O Bahia conta com o lateral-direito Santiago Arias, que estava no grupo da Colômbia na nobre disputa da Fifa há 11 anos (ele aparece como figurinha em uma das cartelas extras do meu álbum). O destaque daquele time era James Rodríguez, que teve passagem discreta pelo São Paulo até o ano passado. O lateral-esquerdo Armero, que figura no álbum em destaque, passou no Brasil por Palmeiras, Flamengo, Bahia, CSA e Guarani. Outros atletas da seleção da Colômbia de 2014 que jogaram no Brasil são Guarín (Vasco) e Zapata (Vitória).
O Grupo C daquele Mundial ainda tinha Grécia (sem jogador por aqui), Costa do Marfim (Kalou jogou no Botafogo, teve time brasileiro cogitando Yaya Touré recentemente e, um tempo atrás, houve aquela lenda urbana de Drogba no Corinthians) e Japão (Honda foi outra estrela internacional a defender o Botafogo).
Vamos para o Grupo D. O Uruguai de Lugano (São Paulo), Godín (Atlético-MG), Forlán (Internacional), Fucile (Santos), Cristian Rodríguez (Grêmio), Abel Hernández (Internacional e Fluminense), Lodeiro (Botafogo e Corinthians), Martín Silva (Vasco), Arévalo Ríos (Botafogo) e Álvaro Pereira (São Paulo) era o cabeça-de-chave. Luis Suárez, o artilheiro dentuço que jogou no Grêmio, foi até eleito o melhor jogador do Campeonato Brasileiro retrasado.
A Itália de 2014 tinha Thiago Motta, mas ele só jogou no Brasil no Juventus na base praticamente. Balotelli foi sondado pelo Flamengo e alguns outros, mas não virou realidade aqui. A Inglaterra, outra campeã mundial dessa chave, reunia todo seu elenco de jogadores no Reino Unido, ninguém veio para cá. Já a Costa Rica, surpresa do grupo, contou com Joel Campbell no Atlético-GO no ano passado e com Bryan Ruiz no Santos entre 2018 e 2020.
O Equador foi o país sul-americano do Grupo E e, normalmente, o futebol brasileiro recebe mais jogadores das outras nações sul-americanas. O zagueiro Erazo, por exemplo, jogou no Flamengo, no Grêmio, no Atlético-MG e no Vasco. Joao Rojas (São Paulo), Michael Arroyo (Grêmio) e Édison Méndez (Atlético-MG) também experimentaram nossos campeonatos. E hoje em dia o Internacional tem como uma de suas grandes estrelas o artilheiro Enner Valencia.
Se Honduras não emprestou nenhum de seus atletas mundialistas de 2014 para o Brasil, imagina então a Suíça. A França está cada vez mais ligada com o nosso futebol. Payet, hoje vascaíno, quase entrou naquela lista de convocados franceses para o Mundial brasileiro, e Pogba, com 21 anos e jogador da Juventus em 2014, entrou no radar do Corinthians para esta temporada 2025. Quem sabe ele não pinte por aqui.
O Grupo F é o da Argentina, que tem dominado cada vez mais o nosso futebol com jogadores e treinadores. O já falecido Alejandro Sabella, técnico que levou seu país ao vice-campeonato mundial em 2014, defendeu o Grêmio em 1985 como jogador em uma época em que havia ainda um rígido limite de estrangeiros por time no Brasil.
Duas décadas depois, com o mercado brasileiro mais aquecido e mais voltado para o exterior, o volante Mascherano (que depois viraria zagueiro) atuou no Corinthians. Tévez também fez esse movimento, mas ele ficou fora da Copa de 2014, diferentemente de Masche. Di María foi especulado várias vezes em grandes clubes brasileiros, mas nunca acertou sua vinda para cá.
Então, dos 23 convocados da Argentina para o Mundial brasileiro, apenas um jogador passou pelo futebol brasileiro. E isso basta para superar o número de atletas das seleções de 2014 da Nigéria, do Irã e da Bósnia e Herzegovina em clubes do nosso país (hoje já estamos mais atentos com o mercado africano, inclusive há nigerianos sendo contratados para as categorias de base).
A Alemanha venceu com requintes de crueldade aquela Copa do Mundo do 7 a 1 no Mineirão. Houve até uma conexão maior dos alemães com o Brasil naquele período, com a seleção europeia jogando de rubro-negra para agradar à Nação flamenguista e com Podolski sendo cotado para jogar em nosso campeonato local algumas vezes. Minha memória não é muito boa, mas, pelo que me lembro, o artilheiro Klose, mais veterano, também foi sondado para defender algum clube brasileiro.
Talvez, se tivessem feito propostas por Özil ou Götze, poderia dar samba alemão por aqui. Dito isso tudo, ninguém da Alemanha tetra do mundo jogou no nosso país. O Brasil é um país bem mais acessível para os portugueses, que também estavam no Grupo G em 2014. Nani foi várias vezes especulado em clubes brasileiros, até pela Portuguesa mais recentemente.
Dizem que tanto o Corinthians quanto o Flamengo já sonharam com Cristiano Ronaldo. Fato é que jogar no Brasil mesmo daquela seleção de Portugal só o que nasceu no Brasil: Pepe, que fez a base no Corinthians alagoano. Sem registro de jogadores das seleções de 2014 de Gana e dos Estados Unidos no futebol brasileiro.
Para fechar, o Grupo H! Você acha que teve algum atleta das seleções de Bélgica, Rússia, Argélia e Coreia do Sul jogando em clube brasileiro? A resposta certa é sim. O argelino Slimani (a última figurinha de seu país no álbum) jogou no Coritiba em 2023, quando já estávamos começando a sentir mais fortemente o cheirinho de Copa de 2014. E fica aqui o registro que o atacante sul-coreano Park Chu-young passou na base pelo clube do Zico no Rio de Janeiro.
Sendo assim, vemos mesmo um número considerável de jogadores do álbum de figurinhas do Mundial do Brasil que estão jogando ou que já jogaram em clubes do nosso país.
No momento em que o duelo entre os parças Neymar e Memphis Depay é bastante aguardado em São Paulo, em que Hulk decide mais um clássico em Minas, em que Oscar e Luiz Gustavo são trunfos do Tricolor para ganhar a Libertadores, em que Enner Valencia é a maior esperança de gols do Colorado, em que David Luiz e Santiago Arias representam times importantes do Nordeste e em que Thiago Silva é o Monstro que não deixa o Fluminense cair, não tinha como eu não fazer um post saudosista lembrando da Copa de 2014.
Se você tem o álbum de figurinhas do Mundial do Brasil vencido pela Alemanha, vá lá e dê uma boa conferida nos jogadores. Se você não tem, veja com mais atenção o que está acontecendo agora no futebol brasileiro.
