SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em sua primeira entrevista a um meio de comunicação após os surpreendentes resultados das eleições presidenciais do Equador, ocorridas no último domingo (9), o presidente Daniel Noboa falou em supostas irregularidades na apuração dos votos.
Noboa, que tenta se manter no cargo, afirmou sem apresentar provas nesta terça (11) que a contagem não coincide com os cálculos de sua campanha. Posteriormente, a OEA (Organização dos Estados Americanos) e os observadores da União Europeia disseram não ter identificado nenhum indício de fraude.
“Houve muitas irregularidades e continuamos contando. Continuamos revisando em certas províncias, onde havia coisas que não batiam ou até mesmo não batiam com a contagem rápida da OEA, que nos colocava com um número maior”, disse Noboa em uma entrevista à Rádio Centro, de Guayaquil.
Além disso, ele afirmou que há “dezenas de casos em que ameaçaram as pessoas para que elas votassem pela Revolução Cidadã”, movimento político fundado pelo ex-presidente equatoriano Rafael Correa, padrinho político da candidata de esquerda que foi ao segundo turno, Luisa González.
Apesar das declarações, Noboa assegurou ter saído na frente no primeiro turno, como indica o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) -nesta terça, com mais de 96% da apuração concluída, 44,15% dos votos válidos foram conquistados pelo atual presidente e 43,95%, por González.
Em uma entrevista coletiva em Quito, a missão da União Europeia que observou as eleições equatorianas disse não ter registrado sinais de irregularidades.
“Nós não temos nenhum elemento que indique a existência de qualquer tipo de fraude”, afirmou o chefe da delegação, o eurodeputado Gabriel Mato, lamentando a criação do que chamou de uma “certa narrativa de fraude”.
Ironicamente, foi Noboa o acusado de cometer irregularidades ao longo da corrida eleitoral. Críticos afirmam, por exemplo, que o presidente descumpriu a lei quando se recusou a se licenciar da Presidência durante sua campanha à reeleição -sua equipe argumenta que, por estar cumprindo um mandato tampão após o ex-presidente Guillermo Lasso dissolver o Congresso e chamar um novo pleito, em 2023, Noboa não precisa cumprir essa regra.
De qualquer forma, foi com a acusação que o presidente se justificou por não ter comemorado nem dado declarações no final da jornada eleitoral, quando os resultados já apontavam um empate técnico com González.
O presidente quebrou o silêncio apenas na segunda-feira (10), com um comunicado frio. “Ganhamos o primeiro turno contra todos os partidos do Velho Equador”, disse.
Para a corrida pela Presidência ser decidida no primeiro turno, um dos candidatos deveria ter recebido mais da metade dos votos válidos ou ao menos 40%, desde que com uma diferença de dez pontos percentuais para o segundo colocado.
Embora as pesquisas de campanha já previssem um segundo turno, o resultado apertado pegou de surpresa os equatorianos, revelando uma nação dividida e imersa na violência do narcotráfico.
A população sente ainda os estragos de um Estado endividado que tenta financiar uma custosa repressão contra gangues. Em 2023, o país registrou o recorde de 47 homicídios para cada 100 mil habitantes, mas, após 14 meses do governo, esse número caiu para 38, segundo informações oficiais -número ainda alto para a nação que já foi considerada uma das mais pacíficas da América Latina.
No dia 13 de abril, quando se celebrará o segundo turno, os candidatos reeditarão o duelo das eleições atípicas de 2023, que levou Noboa ao cargo e o transformou em um dos presidentes mais jovens do mundo.