A jornalista Cristina Graeml passa a fazer parte do quadro do Podemos a partir desta quarta-feira (12), quando a ex-candidata à prefeitura de Curitiba assinará a filiação ao novo partido durante evento no Salão Verde do Congresso Nacional, em Brasília.
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Graeml estreou nas eleições municipais de 2024 pelo nanico PMB e aposta na articulação envolvendo a presidente nacional do Podemos, a deputada federal Renata Abreu, e o ex-governador e ex-senador paranaense Alvaro Dias para se tornar um nome de representatividade nacional da sigla, seja na disputa por uma vaga no Senado ou até na corrida eleitoral pelo governo do Paraná em 2026.
Por outro lado, fontes ouvidas pela Gazeta do Povo pontuam que o Podemos paranaense é aliado do grupo político do governador Ratinho Junior, presidente estadual do PSD, e integrante da gestão do prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD), adversário político de Graeml no acirrado segundo turno em 2024. Assim, a candidatura da jornalista para os cargos majoritários pode enfrentar resistência no cenário estadual e exigir alianças com outros partidos.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Graeml afirmou que “não tem como recuar” diante do capital político conquistado nas eleições de 2024. Ela foi a mulher mais votada da história curitibana, com 390.254 votos no segundo turno. Após o resultado, de acordo com ela, passou a procurar uma legenda para representar os ideais da direita conservadora nas eleições do próximo ano.
“É muito difícil porque o Brasil não tem partido conservador. Parte considerável dos partidos que se dizem de centro-direita bandeou para a centro-esquerda, inclusive dentro do governo Lula. Para minha audiência e eleitorado, isso é inegociável”, reforçou Cristina Graeml.
A jornalista disse que, passadas as eleições municipais, foi procurada pelo ex-governador Alvaro Dias, que perguntou se existia interesse na migração para o Podemos e colocou Graeml em contato com a presidente da sigla, Renata Abreu. “O Podemos foi o partido com quem a gente conseguiu conversar melhor. Vamos começar a trabalhar de maneira mais forte a partir da quinta-feira (13), inclusive a Renata me pediu para fazer o trabalho do Podemos Mulher, inicialmente no Paraná”, adiantou Cristina Graeml.
PL também sondou Cristina Graeml para filiação
Ela conta que foi procurada por “figuras nacionais” de outros partidos, mas as conversas não avançaram por “entraves locais”. Na campanha eleitoral de 2024, a jornalista recebeu o apoio informal do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apesar da chapa do adversário dela na disputa em Curitiba ter o ex-deputado federal Paulo Martins (PL) como vice-prefeito.
No entanto, a filiação de Graeml ao PL para disputar um cargo majoritário não teria espaço estadual pelo favoritismo do deputado federal Filipe Barros, que é cotado para disputar uma cadeira no Senado. O deputado federal do PL é um dos principais articuladores de Bolsonaro no Paraná e liderou a oposição na Câmara dos Deputados no ano passado.
Além de Graeml e Barros, Ratinho Junior pode concorrer ao Senado. O governador do Paraná também é cotado para a disputa presidencial em 2026. O pleito do próximo ano vai eleger, pelo estado, dois senadores para o mandato de oito anos.
As cadeiras do Paraná em disputa são ocupadas pelos senadores Flávio Arns (PSB) e Oriovisto Guimarães. Este último deixou o Podemos e se filiou ao PSDB no final do ano passado. Guimarães já declarou que não vai concorrer à reeleição.
Para sucessão do governo do estado, o grupo político de Ratinho Junior disputa o capital do governador: a lista contempla o nome do deputado estadual Alexandre Curi (PSD), que assumiu a presidência da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) para o biênio 2025-2026; o atual secretário de Planejamento do Paraná, Guto Silva; o deputado federal Beto Preto (PSD); e o vice-governador Darci Piana (PSD).
Questionado sobre o apoio ao grupo político do PSD no estado e na prefeitura de Curitiba, o presidente estadual do Podemos, Gustavo Castro, respondeu que o partido deve manter a relação com o governo Ratinho Junior e lembrou que o Podemos foi primeiro partido a declarar apoio a Pimentel no pleito municipal.
“[O Podemos] continuará apoiando, independente do fato de que membros do partido façam parte da gestão e do fato de que a bancada de três vereadores apoia o prefeito. Tenho a convicção de que o Eduardo representa o conjunto de mudanças que acredito serem necessárias para a cidade sem negar as virtudes do exercício da política como instrumento de mudança da vida das pessoas”, declarou à Gazeta do Povo.
Castro ressaltou que o partido cresce com a filiação de Graeml e projeta que o Podemos será “protagonista do processo eleitoral de 2026” pela força política do nome da jornalista para o pleito. “A eleição de 2024 está no passado, nosso projeto eleitoral está focado em 2026 e na possibilidade da eleição da Cristina Graeml para um cargo majoritário no Paraná, seja para o de governador ou de senador”, comentou.
Cristina Graeml terá estrutura partidária com o Podemos em 2026
Para o professor universitário e cientista político Doacir Quadros, apesar da derrota nas urnas, Graeml teve uma vitória política nas eleições do último ano, tendo saída credenciada para a disputa de um cargo majoritário. Na avaliação dele, a jornalista terá em 2026 uma estrutura partidária que faltou no pleito municipal, que foi marcado por uma disputa judicial interna no comando do PMB, antigo partido dela.
“A estratégia foi pensada em virtude da carreira política, tendo em vista o Senado ou até o governo do estado para 2026. Ela terá uma estrutura partidária, que faltou para concorrer à prefeitura de Curitiba”, avalia.
Ele lembrou que o Podemos perdeu espaço com o resultado eleitoral nos municípios em 2024, mas mantém “pontos estratégicos” na Câmara dos Vereadores e na Secretaria do Governo na prefeitura da capital. Ex-presidente da Câmara de Curitiba, Marcelo Fachinello (Podemos) assumiu o comando da Secretaria de Governo na gestão Pimentel.
“Estrategicamente, ela acerta na escolha do partido. Por outro lado, o Podemos também sai fortalecido pelos atributos da Cristina Graeml, mais alinhados à direita que pode realmente possibilitar uma candidatura de direita no partido”. analisa.
Questionado sobre o rumo do Podemos no estado, Quadros avalia que o ano de 2025, pré-eleitoral, é um momento de reposicionamento das forças políticas e destaca que a aprovação do governo Ratinho Junior deve ter peso nas articulações para 2026. “Os partidos da direita tendem a fazer uma coligação para formar uma frente única no estado e manter o entendimento das lideranças no espectro da direita”, opina.