Passadas as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, líderes de diversos partidos políticos aguardam agora o desenrolar da reforma ministerial desenhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto. Diante do desgaste e da queda de popularidade do petista, o Centrão pretende ocupar mais espaços na Esplanada dos Ministérios em troca de apoio ao governo, mas sem se comprometer com uma aliança com o PT para 2026.
A principal negociação passa pelos articuladores políticos de Lula, que tentam uma acomodação dos agora ex-presidentes Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do Senado, e Arthur Lira (PP-AL), da Câmara. O senador e o deputado são vistos como estratégicos na ofensiva do Planalto para tentar azeitar a base do governo nas duas Casas do Legislativo.
“Tanto o Lira quanto o Pacheco têm todas as credenciais políticas, encerrando suas presidências, de cumprir outros papéis na República”, declarou o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, quando questionado sobre a possibilidade de eles assumirem ministérios.
No caso de Lira, por exemplo, o esforço do governo seria para acomodá-lo no ministério da Agricultura, atualmente ocupado por Carlos Fávaro, do PSD. No último final de semana, em um jantar com aliados em Brasília, o deputado desconversou sobre a entrada na Esplanada dos Ministérios, mas sinalizou que poderia voltar a ser “chão de fábrica” na Câmara ou ocupar outro lugar.
Dentro do PP, partido de Lira, existe um racha sobre o embarque do ex-presidente da Câmara no governo diante da queda de popularidade de Lula. Principal líder do partido, o senador Ciro Nogueira (PI) rejeita uma aliança com o petista e defende o desembarque da sigla do governo antes de 2026. Atualmente, o PP ocupa a pasta do Esporte com o ministro André Fufuca.
“Essa é uma decisão do partido e a maioria do PP é de oposição. Não é porque o Arthur possa virar ministro, como ocorreu com o Fufuca, que o partido vai mudar de postura”, afirmou Nogueira.
Deputados do PP ouvidos pela reportagem admitem ainda que a pasta da Agricultura não é uma das mais expressivas da Esplanada dos Ministérios. Uma das pastas mais cobiçadas pelo PP e outros partidos do Centrão é a da Saúde, que vem sendo blindada por Lula. Com isso, uma alternativa seria ampliar o espaço para essas legendas dentro da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), órgão responsável por obras de saneamento e com capilaridade nacional.
Após recado de Kassab, PSD quer mais espaço no governo Lula
Assim como no caso de Lira, a entrada de Rodrigo Pacheco na Esplanada dos Ministérios é vista por membros do PT como uma forma de reacomodar do PSD. A bancada costuma ser uma das mais fiéis ao governo em votações da Câmara e do Senado, mas o recente recado do presidente da sigla, Gilberto Kassab, acendeu um alerta nos governistas.
“Se fosse hoje, o PT não estaria na condição de favorito. Eles perderiam a eleição. Os partidos de centro estão criando uma alternativa para 2026”, disse Kassab durante um evento em São Paulo na semana passada.
Lula chegou a ironizar a fala do líder partidário, mas a avaliação dentro do governo é de que o PSD é um partido estratégico para os palanques de Lula em 2026. Neste caso, Pacheco é o favorito do petista para disputar o governo de Minas Gerais na próxima eleição, o que garantiria um palanque para o presidente no segundo maior colégio eleitoral do país.
Antes de deixar a presidência do Senado, Pacheco afirmou que “sonha em governar o seu estado”, mas que “tudo precisa ser avaliado ao seu tempo”. Aos seus aliados, o mineiro tem afirmado que pretende submergir para observar com calma o quadro eleitoral de 2026 e para decidir se irá se associar ou não ao governo Lula.
O agora ex-presidente do Congresso pretende ficar fora do campo político pelos próximos 15 dias e só retorna a Brasília após o carnaval. Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) admitiu que pretende negociar com Pacheco sobre o futuro do senador.
“Quero conversar com ele para saber qual é a vontade dele. Tem muita gente falando coisa dele e não sei qual a vontade dele. Todo mundo arrisca dizer que o sonho dele seria ir para o Supremo, mas nunca ouvi isso literalmente”, disse Wagner nesta segunda-feira (3) no Congresso.
Uma das possibilidades seria alocar Pacheco no Ministério da Indústria e Comércio, hoje comandado pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin. Além disso, o PSD pode ser contemplado com um ministério com a indicação do líder do partido na Câmara, Antônio Brito (BA). A medida seria uma forma de amenizar o descontentamento da bancada, que atualmente conta com a indicação de André de Paula no Ministério da Pesca.
“Existe uma insatisfação na bancada de deputados do PSD na Câmara e do líder, Antônio Brito, então isso precisa ser equalizado. No meu período como líder (da bancada no Senado) não teve queixa. O Lula quer o Pacheco governador de Minas e ele está sendo estimulado a aceitar essa candidatura pelo PSD”, explicou o senador Otto Alencar (BA), um dos principais aliados de Lula dentro do partido.
Gleisi ganha cargo para tentar reacomodar o PT na Esplanada
Depois da queda de Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação (Secom) no começo de janeiro, outra baixa entre os quadros do PT dada como certa no Planalto é a de Márcio Macedo na Secretaria-Geral da Presidência. A expectativa é de que Gleisi Hoffmann passe a ocupar a pasta responsável pela interlocução do governo com as centrais e movimentos sociais.
“Não comento sobre reforma ministerial, isso é uma prerrogativa do presidente Lula”, disse Macedo ao ser questionado por jornalistas sobre a sua possível saída do governo, nesta segunda-feira, no Congresso.
Outro quadro do PT que deve ser impactado pela reforma ministerial é o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais. Ele é alvo de queixas no Congresso e no próprio governo em razão das dificuldades enfrentadas na articulação política.
Padilha, no entanto, pode ser deslocado para o Ministério da Saúde no lugar de Nísia Trindade. O ministro já comandou a pasta durante o governo Dilma Rousseff, quando lançou o programa Mais Médicos.
“O presidente vai discutir com os líderes partidários sobre os próximos dois anos. Se isso significa mudança de ministros [do governo], só essa conversa vai dizer”, disse Padilha sobre uma possível reforma ministerial.
Um dos partidos que almeja ocupar o posto da articulação política é o Republicanos, e o cotado para o posto é o atual ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. Líderes do partido admitem que Costa Filho é um nome de confiança de Lula e poderia ampliar a interlocução do governo com o atual presidente da Câmara, Hugo Motta (PB).
Apesar disso, o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, já declarou que a tendência é a legenda apoiar uma candidatura de centro-direita para o Planalto em 2026. A sigla é o partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apontado como possível nome da direita na próxima disputa presidencial.
“O governo está um pouco sem rumo, sem direção. Falta entrosamento interno. Ministros se contradizem, portarias são revogadas. É preciso haver mais pragmatismo”, disse Pereira ao jornal O Globo na semana passada.